Embora os números ainda não mostrem que o Brasil enfrenta um quadro de dominância fiscal, tal cenário pode se efetivar caso a percepção do mercado quanto ao nível da dívida pública continue se deteriorando, de acordo com avaliação do economista-chefe do BB Asset Management, José Maurício Pimentel.
Um quadro de dominância fiscal se dá quando o efeito da política monetária é anulado pelo nível elevado da dívida pública. Neste ambiente, a alta de juros para controlar a inflação gera um aumento da dívida nominal, o que pressiona a curva de juros por meio do prêmio de risco e leva a uma depreciação cambial. A desvalorização da moeda, por sua vez, provoca o aumento das expectativas de inflação.
De acordo com Pimentel, o mercado tem “flertado” com esse ciclo vicioso nos últimos meses, mas a dominância fiscal ainda não é verificável de forma empírica nos modelos econométricos rodados pela equipe de economistas do BB Asset. “Até já estivemos [em dominância fiscal] no passado. Definitivamente, no período de 2006 a 2016 os dados mostram que nós estávamos sob a teoria fiscal do nível de preços”, diz.
“O que o mercado vem fazendo é colocando preços na curva de juros por uma perspectiva fiscal que se deteriora ao longo do tempo. Hoje, o mercado trata notícias boas do lado fiscal como neutras, notícias neutras como ruins e ruins como muito ruins”, avalia Pimentel, que destaca o impacto negativo da percepção dos agentes sobre a curva de juros e a taxa de câmbio.
“Caso se continue nessa trajetória, começa a ficar, sim, possível que nós entremos no regime de dominância fiscal. Se isso acontecer efetivamente, a política monetária perderá ainda mais potência com relação à sua capacidade de ancorar as expectativas de inflação”, conclui o economista-chefe do BB Asset.
Fonte: Valor Econômico

