A bolsa brasileira tem se valorizado com os investidores globais deixando os Estados Unidos e migrando para outros países, em meio à bagunça de Donald Trump, presidente americano. O Brasil, contudo, está longe de ser o mercado emergente favorito entre os investidores mais ricos do mundo. Nos próximos 12 meses, mais bilionários devem elevar a exposição à Índia, à China e à Arábia Saudita do que ao Brasil, aponta um estudo feito pelo banco suíço UBS.
A instituição perguntou a 317 family offices do mundo, como são chamados os escritórios que fazem a gestão de patrimônio dos ricos, em quais mercados emergentes eles devem aumentar a exposição nos próximos 12 meses. As famílias ouvidas nessa pesquisa têm um patrimônio médio de US$ 2,7 bilhões, o equivalente a R$ 15 bilhões. A maioria (51%) não considera aumentar a exposição a nenhum país emergente citado no estudo.
Em seguida, 28% deve elevar a fatia da Índia no portfólio, o país favorito entre os emergentes. Na sequência, 18% pensam em investir mais na China, enquanto 12% pretendem ter uma parcela maior de Arábia Saudita na carteira. Somente 7% consideram aumentar as alocações no Brasil, o mesmo percentual que deve elevar a fatia de Taiwan, México e Coreia do Sul. Ainda aparecem na lista a África do Sul (2%) e a Turquia (1%).
Entre os bilionários da América Latina, no entanto, a propensão a investir no Brasil é bem maior. Quase metade (48%) não considera aumentar a exposição a nenhum país emergente citado no estudo. Porém, 30% devem elevar a fatia do Brasil na carteira, o país favorito entre os emergentes para os investidores latino-americanos.
Em seguida, 15% pensam em investir mais na Índia, o mesmo percentual que pretende ter uma parcela maior no México. Também, 7% consideram aumentar as alocações na China. Mais países emergentes estão fora do radar dos latino-americanos.
“Geralmente as famílias da Europa e dos Estados Unidos têm uma tímida parcela nos mercados emergentes, porque eles trazem um risco adicional à carteira”, afirma Leonardo Bulgarelli, responsável pelo Multi-Family Office UBS Consenso. “Não existe um grande risco específico do Brasil que assusta os estrangeiros, o país tem tamanho, relevância e liquidez. O Brasil apenas não é uma prioridade, porque outros países estão na nossa frente”, diz.
Na análise de Bulgarelli, o risco fiscal no Brasil, tão temido pelos investidores brasileiros, desagrada os estrangeiros, mas ele lembra que outros países também têm risco fiscal. “Essa percepção é suavizada quando os estrangeiros comparam o Brasil com mais países”, afirma.
Guerra comercial é maior risco
O estudo foi feito majoritariamente no primeiro trimestre, antes do anúncio do tarifaço pelo presidente dos Estados Unidos chacoalhar os mercados do mundo. Porém, mesmo antes, a guerra tarifária foi classificada como o maior risco para os investimentos neste ano pelos investidores muito ricos, mostra o estudo.
A maioria (70%) dos investidores cita a disputa tarifária como a maior ameaça aos seus objetivos nos próximos 12 meses. Em seguida, os riscos mencionados são um conflito geopolítico grande (52%) e a inflação maior (48%).
Olhando para os próximos cinco anos, as preocupações principais são um conflito geopolítico grande (61%), uma recessão mundial causada por disputas tarifárias potencialmente graves (53%) e uma crise de dívida governamental (50%).
Apesar das ameaças, a maioria dos ricos (59%) planeja assumir o mesmo nível de risco no portfólio neste ano em comparação a 2024, continuando fiel aos seus objetivos. Em um momento de muita volatilidade e temor de uma recessão no mundo, os mais afortunados estão focando nos investimentos para o longo prazo, para preservar o seu patrimônio para as gerações futuras.
Confiança nos fundos multimercados
A estratégia mais comum para aprimorar a diversificação do portfólio e reduzir os riscos é confiar nas escolhas dos gestores dos fundos de ações, citada por 40% dos entrevistados. Já 31% pensam que confiar nas escolhas dos fundos multimercados, que investem na alta e na baixa de diferentes investimentos no mundo, é bastante eficaz para melhorar a diversificação da carteira.
“As pessoas reduziram muito os fundos multimercados dos portfólios no Brasil. Eles foram o patinho feio da indústria de investimentos nos últimos anos. Contudo, neste momento de tanta volatilidade, vemos as famílias começando a namorar novamente com esses fundos, discutindo se eles estariam bem posicionados para passar pelo cenário atual”, diz o executivo do UBS.
Apesar da fuga generalizada de recursos dos Estados Unidos, alguns investidores muito ricos estão aumentando a alocação em ações dos EUA e de mais mercados desenvolvidos. Em um momento instável para a economia global, eles buscam ganhar surfando na volatilidade dos mercados, enquanto diminuem as aplicações ilíquidas, como fundos de private equity (que aplicam capital em empresas que não estão listadas em bolsa) e imóveis.
O objetivo é acessar aplicações ligadas a tendências seculares de crescimento, que antes eram limitadas ao private equity, como as ações de empresas de inteligência artificial e ligadas à longevidade.
Cerca de 26% das famílias muito ricas aumentaram a alocação em ações de companhias dos mercados mais desenvolvidos no ano passado. Nos próximos cinco anos, metade (46%) planeja se expor mais a essas ações.
Fonte: Valor Investe