Com uma taxa de juro real atrativa e economia resiliente, o Brasil pode se destacar no cenário internacional e já tem atraído bons fluxos de capital estrangeiro. A avaliação é de John Waldron, presidente não executivo e vice-presidente operacional do Goldman Sachs, que esteve no país neste mês para comemorar os 30 anos de presença local do banco americano. Segundo na linha de comando da instituição financeira – abaixo apenas do CEO, David Solomon, e um dos nomes cotados para substituí-lo, Waldron diz que nesse período o Goldman saiu de um pequeno escritório com três pessoas para uma oferta completa de banco comercial e de investimento no Brasil, com 450 funcionários e muitas oportunidades mapeadas.
O executivo afirma que o mundo está passando por um superciclo de investimentos, com necessidade de aportes em projetos de infraestrutura, energias renováveis (e descarbonização) e data centers e chips (pelo avanço da inteligência artificial generativa). Segundo ele, com os governos muito endividados após os esforços fiscais para combater os efeitos da pandemia de covid-19, boa parte desses investimentos virá do setor privado.
“Vemos capital fluindo [para o Brasil]. Em parte, é por isso que nossos negócios estão indo bem aqui, porque somos um intermediário do capital global que quer entrar no mercado brasileiro. De modo geral, a economia brasileira se mostrou bastante resiliente, com taxas de juros razoavelmente elevadas e altas taxas de retorno real. Portanto, é um lugar atraente para alocar capital, especialmente em um mundo onde há mais dinheiro e movimento em termos do dinamismo do que está acontecendo em torno dos fluxos globais de capital, moedas e coisas do tipo”, diz.
Waldron, que passou alguns dias em conversas com clientes, investidores e autoridades – incluindo o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo -, afirma que o clima da comunidade local com a economia é de otimismo cauteloso, com três pontos principais de preocupação: política fiscal, juros altos e relação comercial com os Estados Unidos. Para o executivo, a bolsa está com múltiplos atrativos, mas os juros precisam cair para que os fluxos para ações melhorem. “Pelas conversas que tive, há muito foco nas eleições aqui e quais serão as políticas econômicas. […] Acho que há um otimismo cauteloso de que a situação fiscal pode melhorar e os juros podem cair. E que a relação com os EUA pode voltar a se fortalecer.”
Sobre a guerra tarifária promovida pelo presidente americano, Donald Trump, o executivo do Goldman Sachs evita se posicionar, mas diz acreditar que o Brasil adotará uma postura de manter relações comerciais fortes com diversos países. “O Brasil tem recursos que são atrativos, ainda tem uma economia doméstica muito forte. A relação com os EUA é importante, eu gostaria que fosse mais forte, mas acho que o Brasil vai ter múltiplos parceiros, então não vai se alinhar exclusivamente com os EUA ou com a China.”
Já em relação à economia americana, ele afirma acreditar que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) retomará os cortes de juros em setembro, com uma redução de provavelmente 0,25 ponto porcentual. “Mas vamos começar a ouvir cada vez mais entre os participantes do mercado discutindo se será uma redução de 0,25 ou 0,50 ponto. Temos dados mais fracos sobre o mercado de trabalho e uma inflação ainda relativamente alta, mas mais estável”, diz.
Ao longo dos últimos anos houve rumores de que Waldron, que é republicano, poderia aceitar um cargo em Washington após sair do Goldman Sachs, a exemplo de colegas de banco que seguiram esse caminho, como Gary Cohn, Steven Mnuchin e Hank Paulson. Questionado sobre isso, ele diz estar extremamente focado no seu trabalho. “Não penso além do que estou fazendo agora, no meu trabalho atual, francamente. Quer dizer, meu trabalho, meu tempo e minha energia são gastos focando em nossos funcionários, focando em nossos clientes e focando em tornar a empresa mais forte, melhor e mais resiliente”, afirma
Conforme noticiou recentemente o “Financial Times”, no ano passado Waldron recusou uma oferta bilionária da gestora Apollo e decidiu ficar no Goldman Sachs, o que foi visto por muitos analistas como um forte sinal de que ele é o candidato mais provável a suceder Solomon no comando do banco. Os dois trabalham juntos há décadas e chegaram ao Goldman na mesma época, em 2000. Outros nomes internos também estão na lista, como Dan Dees, Ashok Varadhan e Marc Nachmann, mas Waldron é tido como o favorito.
Sobre esse assunto, Waldron diz que está satisfeito com o progresso que o Goldman tem feito com a estrutura atual. “David [Solomon] tem um emprego. Eu tenho um emprego. Nosso trabalho é tornar o Goldman Sachs mais valioso, mais resiliente, mais capaz de atender nossos clientes, e é nisso que ele e eu estamos focados. Estamos satisfeitos com o progresso que a empresa está fazendo. […] Então, temos uma agenda muito clara para as oportunidades futuras da empresa e tenho um ótimo trabalho no qual estou altamente focado em executá-lo e, você sabe, estou muito feliz por estar no Goldman Sachs. Somos muito complementares, temos um bom relacionamento.”
O banco americano não abre detalhes sobre seus resultados no Brasil. Segundo Waldron, tirando grandes “hubs” globais (Nova York, Londres, Hong Kong e Tóquio), a operação local se assemelha à de Cingapura, por exemplo. “Considerando a América Latina como um todo, podemos pensar em algo como a Ásia [excluindo Japão]. É uma das nossas maiores regiões e está crescendo”, diz.
De acordo com o executivo, o foco não é competir com os grandes bancos locais, mas ter uma operação importante e reconhecida pelo mercado doméstico, combinada com a presença global. “Se você consegue ser local e global ao mesmo tempo… os mercados onde fizemos isso foram extremamente bem-sucedidos. E o Brasil é um ótimo exemplo disso. Mas você precisa estar persistentemente disposto a ser ‘local’ nesses mercados. Precisa fazer isso persistentemente ao longo de, digamos, 10, 20, 30 anos. Não é tão fácil de executar. E nós fizemos isso bem aqui.”
O presidente do Goldman reconhece que as emissões de ações no mercado brasileiro estão paradas, mas afirma que o banco tem visto interesse de investidores globais em comprar participações em empresas brasileiras. O mesmo apetite também ajuda na atividade de fusões e aquisições (M&A). “Se você é um alocador global de ativos e acredita que a economia será relativamente resiliente, esse é um lugar superatraente. Nossa área de M&A normalmente é mais marcada por investimentos globais no Brasil ou clientes brasileiros que desejam vender um ativo e encontram compradores globais. Tem havido mais atividades desse tipo.”
Fonte: Valor Econômico

