Num ambiente de enfraquecimento do dólar e com a participação do capital internacional em mercados emergentes num dos níveis mais baixos da história, migrar parte dos recursos, hoje concentrados nos Estados Unidos, para essas economias é um caminho natural, segundo Scott Piper, executivo-chefe de investimentos (CIO) da Itaú USA Asset Management e chefe-global de América Latina. O Brasil é um dos destinos prováveis dessa revisão de carteiras.
“As empresas brasileiras, em particular, estão operando em alguns dos melhores níveis de sua história. Ao longo de muitos anos, elas otimizaram suas estruturas de custos, reduziram suas dívidas e, consequentemente, estão gerando fluxos de caixa livre muito fortes, que agora são distribuídos na forma de dividendos.”
Os Estados Unidos hoje representam cerca de 70% dos ativos globais, em dólares, um “número maior do que jamais vimos na história”, afirmou Piper ao participar de encontro com jornalistas organizado pela Avenue Securities, em Nova York. Ele citou que parcela dos estrangeiros no índice global de mercados emergentes representa hoje cerca de 10%, com os fundos dedicados com apenas 5%. E dentro da classe, a América Latina fica com 7% disso.
“À medida que o dólar começa a se desvalorizar e os alocadores de ativos ficam menos seguros quanto ao desempenho dos [mercados dos] Estados Unidos, em dólares, torna-se uma decisão muito fácil rotacionar os investimentos de volta para o resto do mundo”, afirma. “E mesmo o menor fluxo de volta para os emergentes é, na verdade, bastante significativo”, comentou.
Esse movimento ocorre num momento em que a participação em ações dos investidores locais está em níveis extremamente baixos porque as taxas de juros estão elevadas.
“Estamos agora nos estágios iniciais de um ciclo de afrouxamento monetário, particularmente no Brasil, um ciclo de redução de juros que com o tempo permitirá que o setor local de gestão de recursos volte a investir em ações, não apenas no Brasil, mas também no México, Chile e outros países”, afirmou Piper. “Temos uma dinâmica em que a participação em ações é extremamente baixa globalmente e extremamente baixa localmente, com os catalisadores adequados para mudar isso. Globalmente, é o dólar e, localmente, são as taxas de juros caindo.”
Na avaliação do executivo, mesmo com os mercados da região sendo destaque de valorização neste ano, as avaliações de preço justo estão comparativamente atraentes. “A América Latina hoje é a única região do mundo que ainda está sendo negociada com desconto em relação à sua média histórica. Todos os outros mercados estão sendo negociados com ágio. Isso inclui os países de mercados emergentes na Ásia. No caso dos Estados Unidos, o ágio é de cerca de 30% a 40%.”
A razão para tamanho desconto, afirmou Piper, é que muito dinheiro foi para a renda fixa local. “A América Latina não possui uma grande reserva de poupança interna como outros países do mundo. Portanto, o mercado ainda está muito barato.”
*A repórter viajou a convite da Avenue Securities
Fonte: Valor Econômico

