12/10/2022
A economia do Brasil deve crescer neste ano abaixo da média global, da média da América Latina e da média de países em desenvolvimento, aponta relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgado nesta terça-feira (11). Enquanto, segundo as projeções do FMI, o Brasil deve ver seu PIB crescer 2,8% em 2022, o mundo deve registrar crescimento médio de 3,2%.
O dado é divulgado em um momento em que o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), propagandeia em sua campanha de reeleição que o Brasil foi o país que melhor se recuperou da crise mundial. Reportagem da Folha no mês passado mostrou que desde os governos Dilma Rousseff e Michel Temer (20112018) o Brasil tem crescimento abaixo da média global, e o relatório do FMI mostra que a tendência se repetirá com o atual presidente.
A América Latina também deve ver suas economias se expandirem acima da média do Brasil, com crescimento de 3,5% ao fim do ano ?com aumentos maiores em países como Argentina (4%), Colômbia (7,6%), Bolívia (3,8%) e Uruguai (5,3%). O Brasil faz parte do grupo de mercados emergentes e economias em desenvolvimento, que devem ter também um crescimento médio acima do brasileiro, com 3,7%. A Índia deve registrar crescimento de 6,8% no PIB, enquanto a China deve ver seu PIB avançar 3,2%.
O índice chinês, no entanto, é baixo para os padrões do país pré-pandemia, e esse é um dos motivos que ajudam a explicar uma média global baixa, segundo o FMI. Na China, tem pesado o enfraquecimento do setor imobiliário, que representa um quinto da atividade econômica do país, e a continuidade das políticas de lockdown para conter o vírus.
Para o ano que vem, a perspectiva do Brasil é ainda pior, com o PIB crescendo apenas 1%, enquanto o mundo deve crescer 2,7% ?o que já é considerado baixo pelos patamares do FMI (para o Brasil, o Banco Central prevê crescimento do PIB de 2,5% no ano que vem e 2,7% neste ano). O relatório foi divulgado em meio às reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, que ocorrem durante toda a semana na capital dos Estados Unidos, Washington, com políticos e economistas de todo o mundo. É a primeira vez que as reuniões acontecem de forma completamente presencial desde 2020, com eclosão da pandemia da Covid-19.
Chama a atenção, porém, o fato de que o Fundo revisou as projeções de crescimento do Brasil para cima ?2 pontos a mais do que o previsto em abril deste ano?, enquanto a expectativa caiu em outras regiões. Os EUA, por exemplo, devem fechar o ano com crescimento 2,1 pontos percentuais abaixo do que o previsto pelo FMI no primeiro semestre. O relatório aponta também que o Brasil deve encerrar 2022 com inflação de 9,4%, patamar alto, mas similar ao de outras economias da região, como Colômbia (9,7%).
Nos Estados Unidos, a inflação, em patamares históricos, deve fechar o ano em 8,1%, projeta o Fundo. Os casos mais graves no continente ocorrem na Venezuela (previsão de 210%) e na Argentina (72,4%). O Fundo prevê, porém, que em 2023 esses dois países mantenham ou até aumentem a hiperinflação, enquanto o índice deve baixar no Brasil (para 4,7%), nos Estados Unidos (para 3,5%) e em quase todos os países da região.
A inflação persistente e desenfreada é a maior ameaça à economia global, aponta o FMI, e uma série de motivos explicam a alta dos preços. Na Europa, pesa sobretudo a crise energética, com redução de oferta de gás após o início da Guerra da Ucrânia. O conflito também pressionou o preço dos alimentos no mundo todo, com a dificuldade da exportação de grãos, afetando mais os países de renda mais baixa.
Outro fator que influencia nos preços de forma global foi a alta do petróleo ?e pode ser mais significativa agora, que a Opep+ aprovou um corte na produção de barris por dia. Projeção é errada, e Fundo tem motivação política, diz Guedes. A projeção de baixo crescimento econômico do Brasil para o ano que vem, estimada em 1% pelo FMI, está errada, defendeu o ministro da Economia, Paulo Guedes, nesta terça-feira (11) na sede do órgão, em Washington.
Segundo ele, as projeções são contaminadas por erros técnicos e motivações políticas. ?Estão sempre errando e vão errar de novo?, afirmou. ?Eles previam que a queda nossa [no PIB] ia ser dez [pontos percentuais em 2020], nós caímos três. Eles previam que o Brasil não ia voltar em ?V? [referência à curva do PIB em uma recuperação econômica acentuada após uma queda drástica], o Brasil voltou em ?V?.
Aí previam que no ano seguinte o Brasil não ia crescer, a gente cresceu de novo ?Eles previam que a queda nossa [no PIB] ia ser dez [pontos percentuais em 2020], nós caímos três. Eles previam que o Brasil não ia voltar em ?V?, o Brasil voltou em ?V?. Estão sempre errando e vão errar de novo Paulo Guedes, ministro da Economia vendo agora para cima. Estão prevendo para o ano que vem um crescimento baixo. Possivelmente estão achando que o outro candidato vai ganhar [Lula], aí o crescimento vai ser muito ruim mesmo. Mas conosco vai seguir crescendo.?
Guedes aponta dois fatores para as expectativas mais baixas do que o resultado final. O primeiro, segundo ele, é um problema nos modelos de cálculo, que privilegiam o investimento público, em queda, sobre o investimento privado, segundo o ministro, em alta no Brasil. ?Os modelos não têm aderência e estão falhando. Essa é a explicação técnica.? O outro motivo seria militância, nas palavras do ministro, ?narrativa política em vez de respeito aos fatos?. ?O Fundo é um erro técnico.
No Brasil, tem uma parte que é erro técnico e uma parte que é militância. Nós estamos assistindo há quatro anos a essa rolagem da desgraça. O ano que vem sempre é uma desgraça, aí não acontece, aí o ano que vem é que vai ser a desgraça, aí não acontece.? Apesar do que o ministro afirma, mesmo instituições do governo revisaram a expectativa para o PIB brasileiro neste ano.
O próprio Ministério da Economia revisou o dado em setembro, para 2,7%, em relação aos 2% previstos anteriormente. Guedes viajou a Washington para acompanhar as reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial. Pela manhã, ele participou de reunião com ministros da Economia e da Agricultura dos países do G20, que discutiram a crise alimentar e a crise energética global.
Guedes também afirmou que o FMI negligenciou a magnitude da inflação global, hoje apontada pelo órgão como a maior ameaça às economias globais, e orientou países de forma equivocada. ?Infelizmente, a supervisão bilateral e multilateral do FMI negligenciou a natureza, a magnitude e a extensão do aumento da inflação que começou em 2021.
Como resultado, a orientação política do Fundo foi equivocada em vários casos?, afirmou o ministro. Ele defendeu ainda que o órgão faça uma reorientação interna para fortalecer sua capacidade de análise macroeconômica e financeira, além de supervisão e assessoria política, ?para restaurar a credibilidade que foi perdida nesse processo?.
Fonte: Folha de S.Paulo

