Com aporte de R$ 592 milhões, companhia vai construir sua terceira unidade produtiva; grupo planeja dobrar faturamento
A farmoquímica Blanver, líder brasileira em produção de medicamentos contra o vírus HIV, investirá R$ 592 milhões para construir sua terceira fábrica, em Mairiporã (SP), e ampliar outras duas unidades já existentes no Estado de São Paulo. Do total, cerca de R$ 420 milhões foram levantados junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) e à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
A expectativa é que os investimentos levem a companhia a dobrar seu faturamento nos próximos três anos, dos atuais R$ 800 milhões para cerca de R$ 1,6 bilhão. “Mas se a gente não conseguir alcançar R$ 1,6 bilhão, chegar a R$ 1,3 bilhão, está ótimo também”, afirma Sérgio Frangioni, CEO da Blanver. “Percebemos que, para sustentar esse crescimento, a gente tinha que investir em todas as fábricas, a de IFAs (Ingrediente Farmacêutico Ativo) em Indaiatuba, a de medicamentos em Taboão da Serra, e nessa nova unidade de Mairiporã, que ainda está em fase de projeto e deve ser inaugurada ao fim de 2025”, afirma ao Valor.
A Blanver foi a pioneira no modelo de parcerias público-privadas (PDP), a partir de 2011, para produção de medicamentos contra o vírus HIV, e posteriormente contra o HCV, causador da hepatite C.
A companhia é atualmente uma das principais produtoras mundiais – e fornecedora para o Sistema Único de Saúde (SUS) – de IFA para medicamentos profiláticos e de tratamento relacionados ao vírus HIV. Já no mercado privado, os farmacêuticos podem prescrever os medicamentos para que o paciente adquira a chamada Profilaxia Pré-Exposição (Prep) independente de pertencer aos grupos de risco definidos pelo Ministério da Saúde.
Um dos ativos estratégicos da Blanver é sua fábrica de IFAs, que receberá parte dos aportes previstos para os próximos três anos e deve ampliar em 70% sua capacidade de produção. Frangioni destaca que a elevada concentração global das companhias fabricantes de IFA ficou evidente para a população durante o período de pandemia.
De acordo com ele, a Blanver está bem posicionada para atender aos mercados interno e externo graças à essa unidade. Além de produzir os insumos utilizados na fábrica própria de medicamentos em Taboão da Serra (SP), a farmoquímica comercializa IFAs para outras indústrias farmacêuticas.
“Hoje, temos capacitação química para produzir o medicamento e estamos no controle no processo de transferência de tecnologia. A produção de IFA dá uma perenidade maior do que outras atividades. É claro que é necessário renovar constantemente o portfólio de medicamentos com inovações, mas uma PDP tem um ciclo menor, um momento de entrada e um momento de saída bem definidos”, afirma Frangioni.
Dados da Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica e de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi) mostram que apenas 5% dos IFAs utilizados pelo setor no Brasil são produzidos no país, enquanto os 95% restantes são importados como insumos para as farmacêuticas nacionais.
Uma das apostas da Blanver é que, com o aporte milionário do próximo triênio, o segmento de produtos oncológicos, hematológicos e de doenças raras amplie sua participação na receita. A partir de contratos de licenciamento, a Blanver produz um portfólio de medicamentos, sem aportes em pesquisa e desenvolvimento (P&D), no que Frangioni chama de “inovação radical”, quando farmacêuticas desenvolvem novas moléculas e produtos químicos. Os contratos de licenciamento incluem parcerias com empresas de países como França, Suíça, Itália, Grécia, Egito, Alemanha e Índia.