11 Mar 2024 LUCAS AGRELA
Para Reinaldo Rabelo, CEO da exchange Mercado Bitcoin, as criptomoedas estão apenas em seus primeiros dias no mercado financeiro. Com a aprovação dos ETFs (títulos de índices) de criptoativos nos Estados Unidos, o bitcoin teve a sua maior alta em dois anos neste começo de 2024.
No ano passado, a moeda foi de US$ 16.625 em janeiro para US$ 42.280 em dezembro, alta superior a 150%. Na última semana, o bitcoin atingiu um pico de US$ 70.000, marca inédita, mas Rabelo acredita que ainda há espaço para um alta maior nos próximos meses. Para ele, o mercado financeiro ainda criará outros tipos de investimentos ligados às criptomoedas, aumentando assim os aportes de investidores institucionais.
A Mercado Bitcoin, que tem quase 4 milhões de clientes cadastrados, aproveitou o “inverno cripto” para internacionalizar a operação, começando por Portugal e Espanha. A expectativa é de que o negócio esteja agora mais bem posicionado para atender a demanda dos investidores de diferentes países, especialmente com a aprovação da operação da empresa em toda a Europa. A América Latina, no entanto, será foco em uma segunda etapa de expansão global.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista.
O bitcoin atingiu a máxima de preço após dois anos. Como o sr. avalia o momento atual da criptomoeda?
Estamos em um bom período, após um bear market (período de baixa) de quase dois anos. O conceito do bitcoin acaba sendo representado pelo preço, mas, no fundo, ele é sobre a tecnologia. Acreditamos nos fundamentos do blockchain para influenciar as novas gerações de internet e mecanismos digitais. O momento de alta vem da aprovação do ETF, que trouxe investidores institucionais dos Estados Unidos ao bitcoin. Teremos também o halving em abril deste ano, que cortará pela metade a mineração de novos bitcoins, aumentando a escassez do ativo no mercado.
Desde 2017, vemos picos de alta do bitcoin, seguidos de quedas, o que pode se repetir com a volta à máxima de preço agora. Como o investidor deve se preparar para não se frustrar na queda?
Estamos falando de um ativo instável, baseado em uma tecnologia que ainda não está pronta e que está se provando ao longo do tempo. Muitas pessoas entram em qualquer ativo por medo de ficar de fora. Como no mercado de ações, a empolgação dos investidores também eleva preços, e não só os fundamentos do ativo. Vemos isso hoje com ações de empresas de inteligência artificial e veremos momentos especulativos levando a uma quebra, que leva os ativos até patamares abaixo do normal. O investidor que sabe que o ativo é de longo prazo consegue assimilar essa perda, sabendo que haverá um novo momento de alta.
Ainda estamos no início da adoção do bitcoin pelo mercado financeiro?
Sim. O bitcoin pode ganhar relevância em outras classes de ativos. Nas últimas altas, a capitalização do bitcoin superou a de todas as empresas abertas na B3. Mas ainda não temos representatividade relevante de investidores institucionais. Com o ETF nos Estados Unidos, isso foi viabilizado. Fundos passam a poder investir nesse ativo de acordo com seus perfis de investimento. Certamente, veremos o mercado aumentando o investimento em bitcoin para diversificar o portfólio. No Brasil, os multimercados ainda não investem em bitcoin, por exemplo, e isso acontece no mundo todo. Quando isso acontecer, naturalmente teremos aumento da capitalização dos criptoativos.
No Brasil, estamos em fase de queda da taxa de juros e a expectativa é de que o mercado americano também inicie o mesmo processo. O bitcoin será afetado por isso?
Há alguns elementos que ainda não aparecem no preço do bitcoin. O Fed está mais cauteloso com o controle da inflação e ainda não reduziu o juro, ou seja, não há uma liquidez nova no mercado. Quando isso acontecer, o investidor vai sair da renda fixa em busca de retornos melhores em renda variável, e as criptomoedas estão dentro dessa classe de ativos.
O halving então é um fator secundário da alta mais recente do bitcoin?
Não chega a ser secundário, mas é previsível e vem sendo precificado aos poucos. Há uma tendência de valorização porque o halving provoca uma escassez de ativos no mercado. Mas tivemos compras de 1.300 bitcoins pelos ETFs, com uma média de 900 bitcoins gerados por dia pela mineração. Isso cria uma pressão de demanda, provocando a necessidade de tirar bitcoin da mão de quem tem, levando a um aumento de preço. Com o halving, a mineração cairá à metade. Naturalmente, há uma pressão maior na balança de oferta e demanda de criptoativos, ainda que o mercado tenha se antecipado e diluído esse processo de aumento de preços. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

