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Uma vitória do ex-presidente Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos provocaria uma tendência “mais pessimista” e “desestabilizadora” para os mercados de bônus do que a reeleição do presidente Joe Biden, na avaliação de Bill Gross, o veterano investidor de renda fixa.
Ele disse ao “Financial Times” que a volta de Trump à Casa Branca exacerbaria os déficits crescentes dos EUA que azedaram sua relação com o mercado em que ganhou apelido de “rei dos bônus” quando comandava a gestora de ativos Pimco.
“Trump é o candidato que mais leva a uma tendência de baixa simplesmente porque seus programas defendem cortes de impostos constantes e coisas mais caras”, disse Gross. Ele ressalvou que o mandato de Biden também foi responsável por trilhões de dólares em gastos deficitários. “A eleição de Trump seria mais disruptiva.”
Gross fez os comentários a menos de seis meses das eleições, marcadas para novembro, e poucos dias antes de um júri em Manhattan começar a deliberar sobre o caso de “suborno” que pode fazer de Trump o primeiro ex-presidente dos EUA condenado por um crime.
O republicano Trump está à frente do democrata Biden na maioria das pesquisas de opinião nacionais, assim como em pesquisas com eleitores dos principais Estados indecisos, que provavelmente definirão o resultado do pleito. Ele também conseguiu endossos de destaque nos últimos dias, inclusive de Nikki Haley, sua adversária nas primárias, e do bilionário Stephen Schwarzman, grande doador do Partido Republicano.
Mas os comentários de Gross são um golpe em um argumento central de Trump na campanha: o de que ele seria um gestor melhor da economia e dos mercados financeiros americanos do que Biden.
Um dos principais programas econômicos de Trump é a promessa de tornar permanentes os cortes de impostos que fez em 2017, uma medida que o think-tank Committee for a Responsible Budget estima que custará US$ 4 trilhões ao longo da próxima década.
Em entrevista em que tratou de vários assuntos, desde suas escolhas atuais no mercado até as origens da sua coleção de selos raros, Gross falou com detalhes sobre o que aprendeu ao compilar 40 anos de suas perspectivas de investimento mensais em um novo livro.
O déficit crescente dos EUA levou Gross a abandonar a estratégia com bônus que o tornou famoso e a declarar em sua última perspectiva de investimento que “o retorno total está morto” – referência ao seu fundo Total Return. O déficit orçamentário dos EUA chegou a 8,8% do PIB no ano passado – mais do que o dobro do valor registrado para 2022, de 4,1%. “O déficit é o culpado; um aumento [anual] de US$ 2 trilhões na oferta… vai pôr alguma pressão sobre o mercado”, afirmou.
No lugar de sua estratégia anterior, Gross disse que tem colocado sua alocação de renda fixa em um fundo fechado que investe em títulos preferenciais, capital contingente e em até 20% de crédito privado, ao mesmo tempo em que usa alguma alavancagem para aumentar os retornos. “Isso com certeza é mais atraente para um investidor que não precisa de muita liquidez.”
Gross também está relativamente pessimista em relação aos mercados acionários dos EUA e advertiu que os investidores “precisam moderar suas expectativas” em vez de esperar uma repetição infinita do retorno do ano passado, de 24% para o S&P 500.
“Com o tempo, os mercados deveriam significar reversão. Para mim, isso significa que os preços subirão menos do que já subiram”, disse ele. “Se as pessoas esperam 10% ou 15%, [elas] trabalharão com orçamentos mais enxutos”, acrescentou.
Gross, que ainda gasta cinco ou seis horas por dia acompanhando os mercados em seu terminal pessoal da Bloomberg, também tem investimentos robustos em ações do setor de tabaco e títulos conhecidos como master limited partnerships (MLPs, sociedades limitadas negociadas publicamente), uma forma com benefícios fiscais de financiar oleodutos e outras empresas. No dois casos, ele procura lucrar com cantos do mercado que outros evitam. Muitos investidores fogem do setor do tabaco por causa de seu impacto na saúde, enquanto as MLPs perdem alguns ou todos os seus benefícios fiscais quando estão em fundos mútuos e veículos de aposentadoria.
Fonte: Valor Econômico

