Por Pedro Borg, Valor — São Paulo
21/12/2022 09h32 Atualizado há 12 horas
Em entrevista coletiva na Casa Branca junto com seu colega ucraniano, Volodymyr Zelensky, o presidente americano, Joe Biden, confirmou novo pacote de ajuda militar de US$ 2 bilhões para Kiev. A ajuda inclui fornecimento do sistema de defesa Patriot, que deve ampliar a capacidade militar da Ucrânia de repelir ataques de mísseis da Rússia.
“Antes da invasão da Rússia, dedicávamos uma enorme quantidade de assistência de segurança à Ucrânia. Desde a invasão, isso resultou em mais de US$ 20 bilhões”, afirmou Biden. “Hoje, estamos anunciando mais um pacote de ajuda”, declarou.
“O povo americano está com você a cada passo do caminho. Estaremos sempre com você, pelo tempo que for necessário”, disse Biden. “Não tenho dúvidas de que manteremos acesa a chama da liberdade”.
Biden acrescentou que a Rússia está intensificando os ataques contra civis e a infraestrutura ucraniana durante o inverno. “Os EUA e nossos aliados ajudarão a Ucrânia a fazer reparos críticos nos sistemas de eletricidade ucranianos”, acrescentou Biden, sem detalhar como isso será feito.
“Vamos continuar a ajudar a Ucrânia a ter sucesso no campo de batalha… Não acho que devemos subestimar o impacto que esta guerra está tendo na Rússia e as perdas que estão sofrendo”, disse Biden.
“Gostaríamos de ter ainda mais Patriots”, disse Zelensky, enquanto a plateia ria. “Estamos em guerra, sinto muito”, completou.
Putin pode querer ir mais longe, alerta Zelensky
“Apenas a paz garantirá a liberdade, integridade territorial do meu país e a recuperação de todos os danos infligidos pela Rússia”, afirmou o líder ucraniano. “Como pai, gostaria de enfatizar quantos pais perderam seus filhos e filhas na linha de frente de combate”.
Segundo Zelensky, a questão humanitária é fundamental para se país. “Estamos discutindo sanções e pressão legal sobre o país terrorista da Rússia”, continuou. “Vladimir Putin [presidente russo] pode até ir mais longe e querer invadir outros ex-Estados soviéticos”, disse Zelensky.
Primeira viagem ao estrangeiro após início da guerra
Zelensky chegou nesta quarta-feira (21) para uma visita a Washington e foi recebido por Joe Biden, que prometeu a ele não poupar esforços para ajudá-lo a rechaçar a invasão pela Rússia. A visita marca a primeira vez que ucraniano deixa seu país desde a invasão russa, há mais de 300 dias. Ele foi recebido por Biden e pela primeira-dama, Jill Biden, logo após pousar em Washington em avião da força aérea dos EUA.
Pouco antes da chegada de Zelensky aos EUA, o governo americano já havia anunciado que concederia mais US$ 1,85 bilhão em assistência militar para a Ucrânia — o que inclui o avançado sistema de mísseis antimísseis Patriot.
Washington já comprometeu dezenas de bilhões de dólares em assistência militar, econômica e humanitária à Ucrânia desde a invasão russa, em fevereiro. O Congresso deve votar ainda esta semana um projeto de lei de gastos que inclui US$ 45 bilhões em fundos adicionais para Kiev.
Biden voltou a prometer “ajuda contínua” à Ucrânia enquanto Putin “aumenta o ataque a civis e tenta usar o inverno como arma”. “Apoiaremos a Ucrânia em busca de uma paz justa”, disse o americano, logo ao receber o líder ucraniano na Casa Branca nessa quarta (21).
Sistema Patriot
O armamento ocidental tem sido fundamental para a resistência ucraniana, que tem imposto sérios reveses às forças invasoras russas e retomado territórios importantes, como Kherson, maior cidade que a Rússia havia capturado desde o início da guerra, em fevereiro. Kiev há muito vinha tentando convencer Washington a fornecer o sistema Patriot — que, segundo analistas, tornará ainda mais poderosa as defesas aéreas do país.
O sistema Patriot demonstrou sua eficiência ao proteger aliados americanos vizinhos do Iraque durante a guerra que depôs o regime de Saddam Hussein.
Além dos mísseis Patriot, os EUA também transferirão pela primeira vez munições de ataque direto conjunto — um sistema que converte munições aéreas não guiadas em “bombas inteligentes”, permitindo que as forças ucranianas alvejem com mais precisão as posições militares russas. Os EUA também treinarão tropas ucranianas no sistema Patriot, provavelmente na Alemanha, por semanas antes que os mísseis cheguem à Ucrânia.
O governo Biden se diz preparado para um conflito que se estenda por todo o ano que vem, ou além disso. No entanto, os líderes republicanos na Câmara devem se tornar menos favoráveis a ajudas adicionais a Kiev no ano que vem, quando assumirem o controle da Casa.
Os republicanos cogitam aumentar a pressão sobre Kiev e Moscou para negociações que ponham fim ao conflito. “Biden não vai pressionar ou empurrar Zelensky para a mesa de negociações, mas vai trabalhar com o Congresso e com nossos aliados para colocar a Ucrânia na melhor posição possível no campo de batalha para que, quando chegar a hora, eles estejam na melhor posição possível na mesa de negociações”, disse um alto funcionário do governo dos EUA ao jornal “Financial Times”.
Reação do Kremlin à viagem de Zelensky
A visita de Zelensky a Washington ocorre em um momento crítico da guerra. Autoridades em Kiev alertaram que Moscou está se preparando para intensificar ofensivas no leste e no sul — onde a Rússia tem atacado a infraestrutura energética das cidades ucranianas.
O Kremlin reagiu na terça (20) à visita de Zelensky aos EUA dizendo que não espera nenhum desenvolvimento positivo ou mudanças na posição de Kyiv sobre as negociações de paz. “O fornecimento de armas para a Ucrânia continua e seu alcance está se expandindo. Isso leva ao agravamento do conflito e não é um bom presságio para a Ucrânia”, disse o porta-voz russo, Dmitry Peskov.
Fonte: Valor Econômico

