Por Eric Platt, Valor — Financial Times, de Nova York
07/08/2022 17h44 Atualizado há 15 horas
A Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, desacelerou drasticamente os novos investimentos no segundo trimestre, depois de ter mantido um ritmo intenso no início do ano, pois a onda de vendas do mercado de ações dos Estados Unidos levou o conglomerado de seguros para ferrovias a ter uma perda de US$ 43,8 bilhões.
No sábado, a Berkshire informou que a queda nos mercados financeiros mundiais afetou fortemente sua carteira de ações, que baixou para US$ 328 bilhões, em termos de valor — em comparação com US$ 391 bilhões no fim de março. A perda de US$ 53 bilhões no portfólio nos três meses até junho superou em muito um trimestre positivo para seus negócios, que aumentou sua lucratividade.
O relatório da empresa às agências reguladoras de valores mobiliários dos EUA mostrou que suas compras de novas ações minguaram para cerca de US$ 6,2 bilhões no trimestre, bem abaixo dos US$ 51,1 bilhões gastos entre janeiro e março – um salto que surpreendera seus acionistas. A Berkshire vendeu US$ 2,3 bilhões em ações no último período de três meses.
Em junho, a Berkshire também gastou US$ 1 bilhão na recompra de suas ações, uma tática que Buffett e sua equipe de investimentos costumam usar quando encontram poucos alvos atraentes no mercado.
Na reunião anual da empresa em Omaha, em abril, o investidor de 91 anos indicou que a onda multibilionária de compras de ações deveria diminuir à medida que o ano avançasse, e disse que o clima na sede da Berkshire se tornara mais “letárgico”.
Os investidores receberão uma atualização mais detalhada sobre como a carteira de ações da Berkshire mudou no fim deste mês, quando ela e outras grandes gestoras de ativos comunicarem seus investimentos às agências reguladoras. Relatórios em separado mostram que a Berkshire aumentou sua participação na empresa de energia Occidental Petroleum nos últimos meses.
A posição gigantesca da Berkshire em dinheiro e títulos do Tesouro mudou pouco com relação ao fim de março: caiu menos de US$ 1 bilhão, para US$ 105,4 bilhões.
Enquanto seu rendimento líquido caiu de um lucro de US$ 5,5 bilhões no início do ano para uma perda de US$ 43,8 bilhões, o resultado operacional – que não leva em conta os altos e baixos de suas posições acionárias – subiu 39%, para US$ 9,3 bilhões. Isso incluiu um ganho relacionado a diferenças de câmbio de US$ 1,1 bilhão na sua dívida não denominada em dólares.
A Berkshire é obrigada a incluir as oscilações no valor de sua carteira de ações e derivativos como parte de seus resultados de cada trimestre, uma regra contábil que Buffett já avisou que pode levar os números dos resultados da empresa a parecerem “extremamente enganosos” e voláteis.
A perda chegou a de US$ 29.754 por ação ordinária classe A. Bem diferente do lucro de US$ 18.488 por ação que a empresa registrou um ano antes.
Analistas e investidores costumam examinar os resultados da Berkshire para buscar sinais da saúde da economia americana em geral, já que seus negócios abrangem grande parte do coração industrial e financeiro do país.
As pressões inflacionárias continuaram a afetar a empresa, embora muitas de suas unidades tenham conseguido repassar a alta de preços para os clientes. A companhia ferroviária BNSF, que Buffett descreveu como uma das “quatro gigantes” da Berkshire, registrou um aumento de 15% na receita, já que as sobretaxas de combustível que cobrou dos clientes compensaram a queda nos volumes de remessas. Os custos com combustível da BNSF, que tem uma malha ferroviária de mais de 52 mil quilômetros distribuída por 28 Estados, subiram mais de 80% na comparação ano a ano.
Sua divisão de seguros Geico registrou um prejuízo antes de impostos de US$ 487 milhões no trimestre, uma piora em relação aos três meses anteriores. A divisão atribuiu o aumento do prejuízo aos preços muito mais altos que precisa pagar por carros novos e autopeças quando seus clientes se envolvem em acidentes.
Em abril, Buffett disse que a empresa sofria os efeitos da inflação em primeira mão e avisou que a inflação “defrauda quase todo mundo”.
Os negócios imobiliários residenciais da Berkshire, como a unidade de casas pré-fabricadas modulares Clayton Homes e a varejista de decoração Nebraska Furniture Mart, ofereceram indicações sobre como os consumidores reagiram aos preços mais altos e ao aumento das taxas de crédito imobiliário. As vendas de móveis ficaram relativamente estáveis, pois o aumento dos preços compensou a redução do número de encomendas.
Contudo, houve sinais de solidez no mercado de imóveis residenciais, e as vendas de novas moradias da Clayton subiram 9,8% no primeiro semestre do ano. As receitas da divisão aumentaram 28%, para US$ 3,4 bilhões, no segundo trimestre, em relação a um ano antes.
“É muito provável que a elevação das taxas de juros do crédito imobiliário residencial reduza a demanda de construção de novas casas, o que pode ter um impacto negativo sobre nossos negócios”, alertou a Berkshire. “Também continuamos a ser afetados negativamente por transtornos persistentes nas cadeias de fornecimento e por aumentos de custos significativos em muitas matérias-primas e outros insumos, como energia, frete e mão de obra.”
A Berkshire também resolveu um possível conflito levantado na sua reunião anual, no início deste ano. Em junho, a empresa gastou US$ 870 milhões para comprar as ações que seu vice-presidente, Greg Abel, sucessor declarado de Buffett, detinha diretamente em sua unidade de energia.
Abel juntou-se à Berkshire em 2000, quando a empresa adquiriu a concessionária de serviços públicos MidAmerican Energy, e desde então detinha parte de sua riqueza nesse negócio, em vez de em ações da controladora.
As ações ordinárias classe A da Berkshire Hathaway caíram cerca de 2% este ano, ou seja, tiveram um desempenho superior à queda de 13% no índice de referência S&P 500.
Fonte: Valor Econômico

