Por Chris Giles, Colby Smith e Martin Arnold — Financial Times
26/06/2023 05h02 Atualizado há 5 horas
Os bancos centrais mundiais estão entrando em uma nova fase no combate à inflação, com economistas alertando que recessões serão o preço a se pagar para atingir as metas compartilhadas de 2%. As principais taxas de inflação na maioria das economias mundiais caíram acentuadamente desde o quarto trimestre do ano passado, mas os núcleos – que excluem categorias voláteis como alimentos e energia – continuam em níveis mais altos em várias décadas ou próximas disso.
Essas taxas, vistas como um indicador melhor das pressões latentes sobre os preços, despertaram a preocupação de que os bancos centrais terão dificuldades para atingir suas metas oficiais sem anular o crescimento.
“A próxima etapa da melhora dos números da inflação será mais difícil”, diz Carl Riccadonna, economista-chefe do BNP Paribas para os Estados Unidos. “Ela exigirá mas sofrimento e esse sofrimento deverá envolver uma recessão na segunda metade do ano.”
Torsten Slok, economista-chefe da Apollo Global Management, acrescenta: “A única maneira de reduzir a inflação para 2% é reprimir a demanda e desacelerar a economia de uma maneira mais substancial”.
O Banco da Inglaterra (BoE) tem um problema especial. Ele aumentou as taxas de juros em meio ponto porcentual na quinta-feira, um dia após os dados de maio mostrarem que o núcleo da inflação subiu para 7,1%.
Seus pares conseguiram se mexer de maneira menos agressiva em suas respectivas reuniões na semana passada. O Banco Central Europeu elevou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, enquanto o Federal Reserve (Fed) dos EUA preferiu não aumentar a sua, mas ambos sinalizaram que a inflação está longe de ser vencida e alertaram para novos aumentos dos juros à frente.
Joachim Nagel, presidente do banco central da Alemanha, alertou que a inflação é uma “besta muito gananciosa” e que seria “um grande erro” parar de aumentar as taxas de juros.
O indicador preferido do Fed de núcleo da inflação, o índice de gastos com consumo pessoal, oscilou em torno de 4,7% nos últimos seis meses. O número equivalente da zona do euro está estabilizado em torno de 5%.
Jerome Powell, presidente do Fed, disse ao Congresso na semana passada que “o processo de fazer a inflação voltar aos 2% ainda tem um longo caminho a percorrer”.
Os mercados estão respondendo à renovada agressividade dos bancos centrais. Agora preveem que as taxas de juros dos EUA atingirão um pico em 5,25%-5,5%, ante 5%-5,25% no começo do mês. Na zona do euro, os investidores estão computando cada vez mais nos preços a possibilidade de aumento dos juros em julho e setembro.
No entanto, operadores questionam a determinação dos bancos centrais. Pesquisa do Bank of America com 81 gestores de fundos de renda fixa constatou que 60% deles acreditam que os bancos centrais aceitariam uma inflação de 2% a 3% se isso significasse evitar uma recessão. Pouco mais de 25% acreditam que os responsáveis pela definição dos juros estariam dispostos a gerar uma recessão para reduzir ainda mais a inflação.
Alguns economistas acreditam que o núcleo da inflação em breve seguirá a queda da medida principal. Referindo-se à zona do euro, Martin Wolburg, economista da seguradora italiana Generali, disse: “Se você olhar para as pressões sobre os preços, verá que elas diminuíram – a inflação dos preços ao produtor está quase em zero – e isso se alimentará”.
Mas Isabel Schnabel, membro do conselho executivo do BCE, afirma que acabar com a inflação alta ainda é algo “cheio de riscos”, argumentando que os responsáveis pela política monetária precisam errar “por fazer demais, e não de menos”.
Segundo avaliação de Schnabel, os governos estão contribuindo para as pressões inflacionárias ao não conseguirem reverter os gastos que foram elevados para compensar o impacto da pandemia de covid-19 e a crise energética na Europa.
Fonte: Valor Econômico

