A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse nesta quarta-feira que poderá realizar cortes de juros este ano, no verão do Hemisfério Norte, em torno de julho. Em entrevista à Bloomberg TV em Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial, Lagarde afirmou que as apostas em cortes agressivos pelo mercado são apenas uma distração. “Não está ajudando na luta contra a inflação, se a antecipação for tal que está muito grande comparada ao que vai realmente acontecer”, disse. O mercado estava apostando que o primeiro corte de juros pelo BCE seria em abril.
A dirigente disse que o BCE está no caminho certo, que a inflação está desacelerando para a meta de 2% mas, ao menos que eles tenham certeza que a desinflação é sustentável, ela não irá declarar vitória. Lagarde disse que acredita que os demais membros do BCE também apoiariam um corte no meio do ano. O comitê de política monetária do BCE se reúne em junho e julho.
“Mas eu tenho que ser reservada porque nós também estamos dizendo que somos dependentes de dados e que ainda há um nível de incerteza e alguns indicadores que ainda não estão ancorados no nível que nós gostaríamos de ver”, afirmou. Um deles é o reajuste salarial que deve ocorrer em meados de junho e qual vai ser o impacto na renda das famílias.
Segundo ela, os dados dos reajustes salariais vão dar uma boa ideia para onde a renda das famílias está indo e, consequentemente, a inflação. “Estou confiante que, a não ser que ocorra outro choque, que atingimos um pico nos juros e que temos que ficar nele o tempo que for necessário. O risco de ir rápido demais [com os cortes] é ter que voltar a subir os juros novamente”, disse.
A entrevista de Lagarde foi mais “dovish” (favorável à flexibilização) do que os comentários de outras autoridades do BCE em Davos nos últimos dias. O membro do BCE e presidente do banco central da França, François Villeroy de Galhau, disse que ainda é cedo para declarar vitória na batalha contra a inflação. Para o presidente do banco central alemão, o Bundesbank, Joachim Nagel, qualquer discussão sobre cortes de juros pelo BCE neste momento é prematura.
Lagarde também voltou a demonstrar sua preocupação com os rumos que as eleições americanas estão tomando e com a ascensão de Donald Trump como possível candidato republicano. A presidente do BCE afirmou que os EUA são a maior economia do mundo, possuem o maior aparato militar de defesa e a maior democracia. “Estamos atentos ao que está acontecendo lá. O povo americano tem que decidir o que eles querem, como acontece nas democracias, com tudo o que isso tem de bom e de mau”, disse. Segundo ela, o BCE trabalha com antecipação, fazendo cenários para os resultados das eleições “como fazemos com a inflação”.
Ao ser questionada sobre se, em um possível novo governo Trump, acordos comerciais com a União Europeia poderiam ser suspensos pela aproximação existente com a China, Lagarde respondeu que os europeus precisam ser fortes e unidos. “Não podemos depender de outros países porque, como temos visto, as coisas mudam”, disse. Lagarde lembrou que os europeus possuem economias que precisam ser mantidas na Europa para financiar “o que precisa ser financiado” para tornar o continente autossuficiente. “Temos que ser mais unidos e olhar para frente.”
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A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde — Foto: David Paul Morris/Bloomberg
Fonte: Valor Econômico

