O Banco Central Europeu (BCE) deixou as taxas de juros inalteradas ontem, em linha com o Banco da Inglaterra (BoE) – que também não mexeu em sua taxa referencial, que está em 5,25%. Porém, diferentemente do Federal Reserve, os comunicados do BCE e do BoE não mudaram o texto que diz que os juros precisarão ficar em território suficientemente restritivo o tempo que for necessário. Os bancos centrais da Europa também não sugeriram possíveis cortes à frente.
Pelo contrário. Na coletiva que se seguiu à decisão sobre os juros, a presidente do BCE, Christine Lagarde, disse que ainda não pode baixar a guarda contra inflação. Segundo ela, a inflação está muito resiliente e “precisamos de mais dados para entender a resistência da inflação doméstica”. “Precisamos ver como a inflação vai se comportar nos próximos meses e até o momento estamos vendo que ela não está baixando.” Segundo ela, esta é uma inflação influenciada pelos salários, que desaceleraram, mas continua subindo. Lagarde disse também que nenhum corte de juros foi discutido durante a reunião de política monetária de dezembro. “Vamos continuar sendo dependente de dados. Entre a alta e a queda de juros, há um longo período de manutenção.”
Com a decisão de ontem, o juro de refinanciamento do BCE ficou estável a 4,50%, a taxa de empréstimos, em 4,75% e a taxa de depósito, em 4%. O banco também informou que vai reduzir seu Programa Emergencial de Compra da Pandemia (PEPP) em € 7,5 bilhões por mês no segundo semestre de 2024 para finalmente encerrá-lo no fim do próximo ano.
Lagarde afirmou ainda que as altas dos juros anteriores continuam a ser transmitidas com força para a economia. Condições financeiras apertadas e demanda externa fraca devem continuar pesando sobre o crescimento no curto prazo. Mas no médio deverá haver uma maior recuperação. “E com a queda da inflação, a economia deve começar a se recuperar com o aumento da renda das famílias”, disse. A expectativa é a de que a economia cresça 0,6% em 2023, 0,8% em 2024 e 1,5% tanto em 2025 como em 2026.
Embora Lagarde tenha afirmado veementemente que ainda não se especula um corte de juros, analistas de mercado parecem apontar para outra direção. Andrew Kenningham, economista-chefe para Europa da Capital Economics, prevê cinco cortes de 0,25 ponto percentual em 2024, com o primeiro acontecendo em abril. “O BCE deixou os juros inalterados e negou que espera iniciar os cortes nos juros logo. Contudo, acreditamos que a alta da inflação e do PIB no ano que vem serão menores do que a projeção do banco central.”
Já o economista-chefe para Europa do Deutsche Bank Research, Mark Wall, o anúncio do fim do PEPP, criado durante a pandemia, reduz os problemas que poderiam se criar por um corte antecipado nos juros em 2024.
Fonte: Valor Econômico
