Por Eduardo Magossi, Valor — São Paulo
11/04/2024 13h15 Atualizado há 8 horas
O Banco Central Europeu (BCE) manteve as taxas de juros inalteradas na reunião do comitê de política monetária desta quinta-feira e, pela primeira vez desde que começou a subir os juros, em julho de 2022, acenou com a possibilidade de iniciar o afrouxamento monetário em breve. Com o aceno, o mercado passou a apostar em um primeiro corte em junho. Se isso acontecer, o BCE irá mostrar que segue um caminho independente das decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que não deverá cortar juros tão cedo.
Com a decisão de ontem, a taxa de referência foi mantida em 4%, a taxa de refinanciamento ficou em 4,5% ao ano e a taxa de empréstimos, em 4,75%. “Se a avaliação atualizada do banco central sobre as perspectivas e dinâmica da inflação subjacente e a força da transmissão da política monetária aumentarem ainda mais sua confiança de que a inflação está convergindo para a meta de forma sustentada, seria apropriado reduzir o nível atual de restrição”, diz o comunicado, que retirou cirurgicamente a frase “manter os juros em território restritivo por um longo período”, presente nos comunicados anteriores.
Em entrevista coletiva após a decisão, a presidente do BCE, Christine Lagarde, disse que as pressões inflacionárias seguem em queda na zona do euro, mas que os membros do comitê de política monetária precisam de mais confiança de que a inflação seguirá para a meta. “Não vamos ter uma desaceleração linear da inflação nos próximos meses, e enfrentaremos alguns solavancos no caminho”, disse ela. Lagarde estima que a meta de inflação de 2% será atingida apenas em 2025, mas diz que não vai esperar chegar a esse objetivo para agir.
“Estamos dependentes de dados e na próxima reunião, em junho, teremos muito mais dados e novas projeções para ter mais confiança para cortar os juros”, disse. Questionada sobre o impacto do aumento da inflação americana — que na terça-feira veio acima do esperado em março e pode levar o Fed a adiar os cortes de juros previstos até então para junho — nas decisões do BCE, Lagarde reiterou que a autoridade monetária europeia é “dependente de dados, e não do Fed”.
A frase dita por Lagarde levou economistas a projetarem que o BCE vai trilhar caminho independente do Fed nos próximos meses. Segundo eles, a expectativa é que, começando em junho, o BCE reduza sua taxa de referência em 1 ponto percentual até o fim do ano, de atuais 4% para 3%.
Segundo Jack Allen-Reynolds, economista da Capital Economics, ao dizer na coletiva que o BCE depende de dados e não do Fed, Lagarde aponta para o momento do primeiro corte em junho, diferente do BC americano, que deverá manter seus juros inalterados na próxima reunião. Nick Bennenbroek, economista do Wells Fargo, tem a mesma opinião. Segundo ele, o comunicado do BCE pavimentou o caminho para um corte de juros em junho. “O BCE citou a desaceleração da inflação subjacente e a moderação do crescimento salarial. Além disso, Lagarde sugeriu que, se as projeções atualizadas confirmarem uma melhora no cenário de inflação, o afrouxamento da política seria apropriado na reunião de 6 de junho”, disse.
Para o economista Carsten Brzeski, do banco ING, mesmo que o anúncio de ontem não mencione explicitamente junho como o momento para um primeiro corte nas taxas, a reunião parece ter sido a última antes do corte. “A queda mais rápida do que o esperado da inflação, bem como o crescimento anêmico, abriram a porta para alguns cortes nas taxas. No entanto, a relutância demonstrada na coletiva ilustra que o BCE não tem qualquer intenção de reverter totalmente o aumento das taxas iniciado em julho de 2022, mas sim fazer ajustes, com um ligeiro afrouxamento de uma posição ainda restritiva”, disse ele, que espera redução de não mais que 0,75 ponto percentual em 2024.
Fonte: Valor Econômico

