Por Estevão Taiar e Alex Ribeiro — De Brasília e São Paulo
20/12/2023 05h03 Atualizado há 6 horas
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, na reunião da semana passada, “manter a comunicação recente” para as suas decisões futuras sobre juros por causa da evolução como esperada do quadro inflacionário. É o que mostra a ata, divulgada ontem, referente à reunião.
No documento, o colegiado do Banco Central (BC) reforça que os seus membros “concordaram unanimemente com a expectativa de cortes” de 0,5 ponto percentual da Selic nos próximos encontros. Mas também chama atenção para o impacto de alguns fatores sobre a inflação no Brasil, como El Niño, preços dos serviços e possíveis “excesso de demanda em relação à oferta no médio prazo” e “pouso suave” da economia americana.
Na reunião da semana passada, quando diminuiu a taxa básica de juros de 12,25% para 11,75%, sempre em termos anuais, o Copom “analisou vários cenários prospectivos, caracterizados por diferentes trajetórias nos ambientes doméstico e internacional”, segundo a ata. Também foram debatidas “a estratégia e a extensão de ciclo” de cortes da Selic apropriadas para cada um desses cenários.
“Optou-se por manter a comunicação recente”, disse o Copom, afirmando que essa comunicação “já embute a condicionalidade apropriada em um ambiente incerto, especificando o curso de ação caso se confirme o cenário esperado”. De maneira geral, “o cenário doméstico vem se encaminhando em linha com o que era esperado”, segundo o Copom. Continua, por exemplo, a “trajetória desinflacionaria” de medidas mais sensíveis à política monetária, como núcleos e inflação de serviços, “reforçando a dinâmica benigna recente da inflação”. “Além disso, dados recentes sugerem moderação da atividade econômica, como antecipado pelo Comitê”, disse.
Já a desancoragem das expectativas para prazos mais longos calculadas pelo mercado “se manteve desde a última reunião”. Por sua vez, as projeções de inflação do próprio BC “no horizonte relevante [anos cujas metas a autoridade monetária persegue] não se alteraram significativamente, mantendo-se acima da meta”.
Para o Copom, cortes de 0,5 ponto “nas próximas reuniões” combinam: de um lado, “o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionaria”; de outro, o “ajuste” do aperto monetário “diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário” principal do colegiado.
Sobre a extensão dos cortes, o Copom reforçou que dependerá da evolução de cinco fatores: dinâmica inflacionária, especialmente “dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica”; expectativas de inflação, particularmente “as de maior prazo”; projeções de inflação; o grau de ociosidade da economia; e balanço de riscos, no qual o comitê faz uma análise mais subjetiva dos riscos ao cumprimento da meta.
O Copom destacou, porém, alguns fatores que já afetam ou podem afetar a inflação no futuro. Um deles foi o El Niño, cujo impacto sobre os preços de alimentos o colegiado “elevou um pouco” depois de “acumular mais evidência”. O comitê também “notou alguma surpresa para baixo no componente de serviços subjacentes” desde a reunião de novembro.
Além disso, para “vários membros do Copom, houve um aumento da probabilidade da ocorrência de um pouso suave nos Estados Unidos”. Os motivos foram dados mais recentes que, “ainda que incipientes, sugerem uma moderação de crescimento e um arrefecimento das pressões inflacionárias em alguns países, especialmente na parte de bens industriais e commodities energéticas”.
Outro ponto para o qual “alguns membros” chamaram atenção foi “que a persistência de uma conjunção de maior resiliência do consumo e queda no investimento poderia provocar, no médio prazo, um excesso de demanda em relação à oferta”. Essa combinação tem por sua vez “potenciais impactos sobre preços”. A avaliação foi feita a partir dos números do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre. Por fim, o colegiado mencionou “o contexto geopolítico” como fonte de incerteza externa.
Fonte: Valor Econômico

