Por Anaïs Fernandes — De São Paulo
15/07/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
O indicador do Banco Central para medir a atividade veio um pouco abaixo das expectativas em maio, mas não mudou a avaliação dos economistas de que, embora a tendência seja de desaceleração, o PIB do segundo trimestre deve ser mais forte do que o antecipado.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 0,11% em maio, na comparação dessazonalizada com abril, conforme divulgou autoridade monetária ontem. A mediana das estimativas colhidas pelo Valor Data apontava estabilidade. Em relação a maio de 2021, houve alta de 3,74%; em 12 meses, subiu 2,66%.
Economistas chamam a atenção para o fato de o índice apresentar queda em maio, apesar de o varejo ampliado (inclui veículos e material de construção) ter crescido 0,2%, a indústria ter avançado 0,3%, o setor de serviços ter subido 0,9% e o IBGE ter revisto em 0,6% a safra no mês. “Está na contramão dos indicadores mensais. O IBC-Br tem sido mais errático e volátil, por causa de ajustes sazonais e revisões constantes”, diz Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas.
Nesta semana, após a divulgação do desempenho dos serviços em maio, a Claritas elevou sua projeção para o PIB no segundo trimestre de 0,5% para 0,7%, em relação aos três meses imediatamente anteriores. Apesar da contração do IBC-Br em maio, a queda ainda deixa uma herança estatística de cerca de 0,2% para o segundo trimestre, estima Rocha. A projeção preliminar da Claritas é que o IBC-Br registre avanço de 0,9% em junho, com alta de 0,2% nos serviços e de 0,4% no varejo ampliado, mas queda de 0,1% na produção industrial.
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“Se estivermos corretos e o IBC-Br subir 0,9% em junho, no segundo trimestre o crescimento seria de 0,5%. Claro que essa projeção conta com grau de incerteza elevado, mas vai na direção de um PIB positivo no período, com crescimento próximo da nossa estimativa atual de 0,7%”, afirma Rocha.
Após a divulgação do IBC-Br de maio, o Santander ajustou seu monitor do PIB no segundo trimestre de 2022 de 0,7% para 0,8%. O banco já havia revisado ontem sua projeção de PIB em 2022 de 1,2% para 1,9%. Ontem, também elevaram suas estimativas para o PIB de 2022 os bancos Credit Suisse (de 1,4% para 2%) e o C6 (de 1,5% para 2%).
Segundo o Santander, a previsão é sustentada pela contribuição da reabertura dos serviços, pela recuperação do mercado de trabalho e pelo aumento da renda disponível. “Ainda acreditamos que a economia em geral vai azedar no segundo semestre de 2022, quando os efeitos de uma política monetária mais apertada começarem a aparecer, mas os estímulos fiscais adicionais recentes podem sustentar parcialmente a demanda no período (com um enfraquecimento mais suave do que se pensava anteriormente)”, comenta o economista Lucas Maynard.
Antes, a Claritas projetava queda do PIB no terceiro trimestre, em relação ao segundo; agora, espera um resultado zerado. “Acreditamos que os números do mercado de trabalho no Brasil, a confiança do consumidor e do empresário ainda apresentando alta e o novo pacote fiscal do governo ajudam a amortecer esses impactos negativos”, diz Rocha. Ela projeta um PIB de 2% em 2022, mas reconhece que novas revisões para cima não podem ser descartadas.
O Bank of America (BofA), por outro lado, reiterou sua projeção de crescimento de 1,5% para o PIB em 2022. “Os indicadores de atividade econômica tiveram um mês fraco em maio, seguindo trajetória de desaceleração no segundo trimestre”, afirma a equipe.
Para o J.P. Morgan, o resultado do IBC-Br em maio reduziu o risco de alta em sua projeção de crescimento do PIB no segundo trimestre. Em relatório, a equipe destacou que o resultado foi a segunda decepção consecutiva com os indicadores de atividade, já que o IBGE havia apresentado, no dia anterior, nova desaceleração do varejo no mês. No quesito ampliado, passou de 0,5% em abril para o 0,2% já mencionado em maio.
O banco diz que seu monitor de alta frequência para a atividade, que subiu depois da divulgação de alta de 0,9% dos serviços em maio, recuou após várias semanas de avanço.
Fonte: Valor Econômico