O Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) do Banco Central (BC) apontou que as provisões do sistema financeiro “mantiveram-se compatíveis com as estimativas de perdas esperadas”. A ata da última reunião do Comef foi publicada nesta quarta-feira (26).
Segundo o Comef, mesmo desconsiderando a mudança com o início da Resolução 4.966, que alterou o modelo de cálculo de provisões incorridas para provisões esperadas, os ativos problemáticos no sistema continuaram aumentando. A mudança normativa levou a um aumento no índice de inadimplência, segundo cálculos do próprio BC. “Em reconhecimento ao aumento do risco da carteira, as instituições financeiras (IFs) ampliaram suas provisões”, destacou.
Ainda de acordo com a ata, o sistema tem mantido capital e ativos líquidos suficiente para absorver “potenciais perdas” em cenários estressados.
“O Comef segue atento à dinâmica das cadernetas de poupança e dos demais instrumentos de captação para o crédito imobiliário. A rentabilidade do SFN se reduziu levemente em razão, principalmente, do aumento das despesas de provisão e da elevação do custo de captação, que tem pressionado a margem de juros com crédito.”
Os testes de estresse conduzidos pelo BC mostram um sistema resiliente, segundo o Comef. “O impacto mais severo continua sendo o observado no cenário de quebra de confiança no regime fiscal.”
O Comef também apontou que há uma continuidade da desaceleração do crédito, mas ressalvou que o ritmo de crescimento continua historicamente elevado. De acordo com o Comef, a desaceleração está em linha com as condições financeiras restritivas e a moderação na atividade.
Já sobre o mercado de capitais, o colegiado destacou que houve desaceleração na emissão de títulos privados, mas ainda com ritmo de crescimento forte. A desaceleração mais acentuada, destacou o Comef, foi vista nas Cédulas de Produto Rural (CPRs).
Sobre a dinâmica de debêntures, o comitê pontuou que as emissões tiveram “leve aceleração” com spread menor e maior prazo em comparação com o segundo trimestre. “Para os fundos de crédito privado, eventual abertura de spreads e consequente queda na rentabilidade podem pressionar resgates. Apesar do prazo de resgate curto, os fundos possuem liquidez”, apontou.
Condições externas mais favoráveis
Na ata, o Comef ainda apontou que, desde agosto, data da última reunião, as condições financeiras globais “tornaram-se mais favoráveis”. O colegiado destacou que, nas economias avançadas, o impulso do crédito permanece próximo à estabilidade e que houve redução da alavancagem de famílias, empresas e bancos nos Estados Unidos.
Por outro lado, a alavancagem dos “hedge funds” subiu. “O Federal Reserve (Fed) comunicou o encerramento da contração de seu balanço, após sinais de que as reservas bancárias se aproximam de um nível considerado não abundante. Neste contexto, necessidades sazonais e pontuais de liquidez de curto prazo foram atendidas por meio de linhas de assistência do Fed, embora a liquidez global siga elevada”, destacou a ata.
Para o Comef, o sistema financeiro internacional tem demonstrado resiliência, apesar da incerteza sobre política econômica continuar em níveis elevados.
O colegiado ainda pontuou que as expectativas sobre as políticas fiscal e monetária das economias avançadas continuam sendo “fatores relevantes” para precificação de ativos.
“Persiste o descompasso entre o apetite por risco e a incerteza relacionada às tensões geoeconômicas. Dúvidas sobre a valorização de ativos de risco e outras vulnerabilidades financeiras requerem atenção adicional”, apontou.
Além de fazer uma análise de cenário, o Comef também define o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil). O ACCP é um valor acumulado pelos bancos durante a fase de expansão de crédito e pode ser utilizado em momentos de retração.
O objetivo é formar uma reserva que pode ser utilizada para suavizar um movimento de contração do crédito. O ACCPBrasil continua em 0%. Nas últimas reuniões do Comef, o colegiado já vinha avisando que estudava uma sistemática para definição de um valor positivo para o ACCP.
Na reunião deste mês, o comitê informou que deu continuidade nesses estudos. “Nesse contexto, prosseguiu-se na avaliação de metodologias de calibragem e dos impactos da adoção da referida sistemática, bem como do momento adequado para sua implementação e da forma de transição.”
O objetivo é definir um “buffer neutro positivo”, para que o Comef pudesse ajustar o ACCP de acordo com o cenário de estabilidade. Em caso de elevação, as instituições financeiras têm um período de 12 meses para adequação. Já na redução, o capital é liberado imediatamente.
No cenário internacional, o Comef destacou que a maioria das jurisdições avaliadas não alteraram os seus buffers contracíclicos, mas cinco os elevaram. “De 54 jurisdições avaliadas, 41 mantêm o buffer contracíclico ativado, das quais 26 jurisdições fazem referência à adoção da sistemática do buffer neutro positivo, que consiste na manutenção de um nível mínimo de capital adicional contracíclico mesmo em períodos sem acúmulo significativo de riscos financeiros”, destacou.
Fonte: Valor Econômico

