Por Sérgio Tauhata, Valor — São Paulo
17/10/2023 14h27 Atualizado há 16 horas
O Banco Central (BC) fez mais uma sugestão para o parcelado do cartão de crédito do que uma proposta, afirmou o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, durante evento da Moody’s nesta terça-feira, em São Paulo. “Não acho que dá para dizer que o BC apresentou uma proposta [de limitar o parcelamento em 12 vezes]”, disse.
Segundo o dirigente, “o que aconteceu [ontem] foi uma tentativa de reunir o máximo possível dos atores numa mesa para se pensar como seria possível se produzir uma solução o mais benéfica possível para os atores envolvidos e, em especial, para a população brasileira”. Para Galípolo, “o mais relevante é dizer que existe um ânimo comum para construir um tipo de consenso”.
O diretor do BC voltou a apontar o cenário externo como o fator predominante para os rumos do mercado no país atualmente. “Desde agosto temo s visto um ‘sell off’ relacionado com o cenário internacional”, afirmou.
Galípolo citou como um dos principais desafios atualmente a subida “bastante violenta e rápida” dos juros das Treasuries, os títulos do Tesouro americano. “Se olharmos os 80 pontos-base que as Tresuries chegaram a abrir em 45 dias, foi uma alta bastante violenta e rápida, mas quando eu olho o patamar não estão tão fora da média histórica. Acho que acho o que ficou mais fora [da média histórica] foram o movimento e o diferencial na ponta longa.”
Conforme o diretor do BC, o trabalho do Federal Reserve (Fed, o BC americano) “parece ser o de tentar ‘puxar’ a ponta longa [da curva americana] para evitar ter de subir a ponta curta, porque o mercado está produzindo parte do aperto, conforme alguns dirigentes do Fed já disseram”.
De acordo com Galípolo, “quando os EUA começam a pagar 4,60% a 4,70% em taxas de dez anos a 30 anos ou 5,5% no curto prazo a situação fica mais difícil para os mercados emergentes”.
Sobre as explicações para o comportamento da curva de juros nos EUA, o diretor avalia que o efeito do “quantitative tightening” (QT, ou aperto quantitativo) e da pressão com uma maior emissão de títulos pelo Tesouro americano pode estar tendo efeito maior na ponta curta da curva de juros.
“O Tesouro americano tem tido uma demanda de colocar US$ 200 bilhões por mês [para financiar o governo] e o QT está colocando [no mercado] mais US$ 80 bilhões [mensais]. O meu palpite é que isso está indo para a ponta curta da curva, para o ‘money market’, porque quando esse mercado está pagando de 5% a 5,5% [ao ano] de remuneração dá para [o investidor] ficar em ‘cash’ e aguardar. Acho que é um cenário internacional bem mais desafiador.”
Esse cenário externo mais duro pode afetar o Brasil principalmente através do canal do câmbio. “Para fins da política monetária, o principal ponto de transmissão é o câmbio”, afirmou. “Existe uma preocupação [no mercado] de como o câmbio pode afetar a condução da política monetária”, avaliou.
Proposta do BC de limitar parcelado e criar teto para intercâmbio pode ser positiva para adquirentes, diz Citi
A proposta aventada pelo Banco Central (BC) de limitar o parcelado sem juros a no máximo 12 vezes e estabelecer um teto para a tarifa de intercâmbio no cartão de crédito — a exemplo do que já ocorre no débito e no pré-pago — pode ser positiva para as adquirentes, as empresas de “maquininhas”, segundo uma análise preliminar do Citi.
O Citi aponta que, de acordo com os dados do BC, as transações com sete ou mais parcelas representam apenas cerca de 15% do volume total do cartão de crédito, e a maioria desse volume deve ficar entre sete e doze parcelas. “Ainda assim, dada o duration das compras acima de 12 parcelas, a economia [com essa limitação] deve ser pequena, mas não irrelevante.”
Limitar o parcelado sem juros é uma demanda dos bancos, que ficam com todo o risco da operação e dizem que a inadimplência é maior nas compras com mais prestações. Por outro lado, criar um teto para a tarifa de intercâmbio — que fica com os bancos — prejudicaria esse grupo e tende a beneficiar as adquirentes, que têm visto suas margens serem apertadas nos últimos anos. No quarto trimestre de 2022, segundo dados do BC, a tarifa de intercâmbio média no cartão de crédito foi de 1,64%.
Segundo o Citi, no líquido a limitação do parcelado sem juros e a criação de um teto no intercâmbio tende a ser positiva para as adquirentes. “O limite para o intercâmbio não estava nas discussões até este momento, e ainda não há uma estimativa do nível do limite, por isso é difícil calcular possíveis impactos — mas acreditamos que este é um desdobramento mais positivo das discussões… pelo menos para as adquirentes.”
Fonte: Valor Econômico

