As contas externas, que pareciam não ser mais um problema da economia brasileira, voltaram a chamar a atenção do mercado diante das saídas de dólares pela intervenção do Banco Central (BC) no câmbio em dezembro, a maior da história do regime de flutuação, em paralelo à piora no déficit das transações correntes (entradas e saídas de recursos) do País com o mundo.
O cenário não é considerado alarmante pelos economistas, pois a desaceleração econômica, aliada ao dólar mais caro, tende a reduzir as importações. Além disso, há confiança de que o Banco Central não retomará a venda de dólares com a mesma intensidade. Os indicadores de contas externas, no entanto, voltaram a merecer acompanhamento especial pelo risco de o Brasil se tornar mais vulnerável a choques internacionais.
As políticas do governo de Donald Trump, com barreiras comerciais e deportação de imigrantes, apontam para um mundo onde o dólar circula com menor fluidez. Já no Brasil, os saldos negativos do balanço de contas correntes com o exterior têm aumentado com o buraco nas contas públicas, num déficit duplo que leva analistas a questionar se a depreciação cambial dos últimos sete meses tem algo de estrutural.
Os investimentos estrangeiros diretos no Brasil, superiores a US$ 71 bilhões (R$ 408 bilhões) no ano passado, não financiam mais com tanta folga o déficit nas transações correntes, que mais do que dobrou: de US$ 24,5 bilhões, ou 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2023; para US$ 56 bilhões, ou 2,5% do PIB, em 2024.
A cobertura da dívida externa é a menor em 17 anos. Conforme dados estimados pelo BC, a soma das reservas internacionais, créditos brasileiros no exterior e haveres de bancos comerciais terminou dezembro superando a dívida externa bruta em menos de US$ 5 bilhões. É a menor sobra desde setembro de 2007, quando o Brasil não tinha cobertura para toda a sua dívida externa.
Posso dizer que o Brasil hoje está em situação mais vulnerável (por causa dos choques externos que podem ser causados pelas tarifas de Trump)
Alex Fuste, economista-chefe do Andbank
Em entrevista recente ao Estadão/Broadcast, o economista-chefe do Andbank, Alex Fuste, considerou que, embora tenha US$ 329,7 bilhões em reservas, o Brasil se tornou mais vulnerável a choques vindos do exterior. “Como o que temos pela frente, fruto da estratégia de tarifas (de Trump), é um choque externo por escassez de dólares, posso dizer que o Brasil hoje está em situação mais vulnerável. Isso é o que nós, investidores com foco em mercados emergentes, observamos”, comentou.
Fonte: Estadão

