28 Jun 2023 ADRIANA FERNANDES
O Banco Central abriu a porta para uma redução dos juros em agosto, mas a ata divulgada ontem da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) subiu o chamado juro neutro da economia brasileira, que é aquele que não acelera nem desacelera a inflação. Isso significa, na prática, que o Banco Central está sinalizando juros altos por mais tempo para colocar a inflação sob controle.
A mudança não passou despercebida pela área econômica do governo, que vê na alteração um dos sinais mais importantes da ata, sem espaço para interpretação diferente.
A outra novidade foi a divergência entre os diretores – um grupo enxergando que o processo desinflacionário em curso pode permitir a queda da taxa Selic em agosto; outro, bem mais cauteloso. Há quem aposte que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, esteja no primeiro grupo.
Na ata da reunião do Copom, o BC informou que a sua estimativa para a taxa de juros real neutra subiu de 4,0% para 4,5% ao ano. O BC apontou três principais razões para a subida: uma possível elevação das taxas de juros neutras nas principais economias do mundo, a resiliência da atividade econômica brasileira e um processo desinflacionário lento no Brasil.
Ao Estadão, o ex-diretor do BC Jose Julio Senna avaliou que a informação da elevação do juro neutro foi muito importante. Para ele, significa a necessidade de ainda mais “parcimônia e cautela”. “Na medida em que acreditam (os diretores do BC) que realmente subiu, não resta alternativa a não ser reconhecer isso. A rigor, é algo que eles têm amadurecido lentamente”, diz o economista.
Ele destaca a “resiliência na atividade econômica, diante de um forte aperto monetário que já dura sete trimestres, e a lentidão do processo inflacionário”. O que isso significa? Para a inflação ceder, o BC diz que é necessário esfriar mais a economia.
“Se a atividade e a inflação demoram a ceder, talvez seja porque o (juro) neutro subiu, e o aperto tem sido menos expressivo do que o imaginado” afirma. Senna pontua que estimativas recentes do Fed (o banco central americano) de Nova York não dão suporte à tese de que o juro neutro subiu nos Estados Unidos, mas aparentemente subiu na zona do Euro.
GASTOS EXTRAS. No mercado, há uma leitura de que a desaceleração não está ocorrendo no ritmo esperado pelo BC. Uma possível explicação é de que o governo resolveu gastar mais. Tanto o governo Lula quanto o do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A reunião do Copom, na semana passada, foi polêmica. O BC manteve os juros em 13,75% ao ano, mas no comunicado que é divulgado em seguida à reunião não abriu as portas para a queda. Essa interpretação serviu de estopim para aumentar a queda de braço do governo com Roberto Campos Neto em torno do início do processo de queda de juros.
Embora o embate tenha contornos políticos, a discussão que cerca a polêmica sobre a política monetária é se o BC já colheu os efeitos que esperava para conter a inflação ou se precisa persistir mais um tempo com os juros em 13,75%.
Nesse caso, o risco que é apontado por integrantes do governo é a desaceleração do crescimento e aumento do desemprego.
O que está em jogo, segundo auxiliares do presidente Lula, é a redução ainda mais acentuada da atividade econômica e, consequentemente, do mercado de trabalho. •
Fonte: O Estado de S. Paulo
