Por Larissa Garcia e Alex Ribeiro, Valor — Brasília
26/09/2023 08h46 Atualizado há 45 minutos
As expectativas de inflação, após apresentarem “reancoragem parcial”, seguem sendo “um fator de preocupação”, apontou o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na ata de sua última reunião, divulgada nesta terça-feira.
“O Comitê seguiu avaliando que, entre as possibilidades que justificariam observarmos expectativas de inflação acima da meta estariam as preocupações no âmbito fiscal, receios com a desinflação global e a possível percepção, por parte de analistas, de que o Copom, ao longo do tempo, poderia se tornar mais leniente no combate à inflação”, disse.
“Desse modo, o Comitê avalia que a redução das expectativas virá por meio de uma atuação firme, em consonância com o objetivo de fortalecer a credibilidade e a reputação tanto das instituições como dos arcabouços econômicos”, completou.
No documento, o Copom notou haver uma evolução benigna do cenário corrente de inflação, “em consonância com o que já era esperado”.
“O Comitê avalia que a dinâmica da desinflação segue caracterizada por um processo com dois estágios distintos. O primeiro estágio exibiu uma dinâmica benigna dos preços de alimentos e industriais e do comportamento dos preços no atacado”, repetiu o colegiado.
“O segundo estágio, iniciado em período recente, continuou a exibir uma dinâmica benigna dos preços de alimentos e no atacado, além de apresentar desaceleração nos preços de serviços e de serviços subjacentes”, complementou.
Segundo a ata, o debate sobre a inflação de serviços se concentrou, novamente, em seus determinantes. “Os membros discutiram o realinhamento de preços relativos, o papel do mercado de trabalho e o hiato do produto para as perspectivas de inflação. Por outro lado, os componentes relativos a bens industriais e preços administrados podem apresentar um comportamento menos benigno do que era anteriormente esperado, em função do movimento recente da taxa de câmbio e do preço das commodities internacionais”, detalhou.
O comitê destacou ainda que a inflação de itens mais sensíveis ao ciclo econômico recuou, mas se mantém acima da meta. “Os indicadores que agregam os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que possuem maior inércia inflacionária, apresentaram menor inflação, mas mantêm-se acima da meta”, afirma o Copom, em ata que detalha a decisão de baixar os juros de 13,25% ao ano para 12,75% ao ano.
O Copom seguiu avaliando que a volatilidade inerente aos componentes ligados a alimentos e bens industriais sugere a possibilidade de reversões abruptas, recomendando cautela. “Em tal debate, foram mencionados os riscos, parcialmente incorporados no cenário de referência, referentes ao fenômeno climático do El Niño, assim como os referentes à evolução do preço internacional do petróleo, que, nas projeções, seguiu a governança usual do Comitê em suas hipóteses”, afirmou.
O BC ressaltou a incerteza com relação à magnitude do El Niño e ao período em que o fenômeno teria maior impacto e aos efeitos individuais sobre diferentes produtos alimentícios. “O Comitê optou por incorporar um impacto relativamente pequeno do El Niño em suas projeções de inflação de alimentos, mas alguns membros enfatizaram os impactos inflacionários no caso de ocorrência de um fenômeno El Niño mais extremo”, pontuou.
Por fim, o comitê concluiu unanimemente que há necessidade de uma política monetária “contracionista e cautelosa”, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária.
Atividade econômica e ociosidade
O Copom observou ainda uma redução do nível de ociosidade da economia, devido ao crescimento mais forte do que o esperado da atividade econômica.
“Notou-se um aperto do hiato do produto na margem, em função da maior resiliência da atividade econômica”, disse a ata do Copom, que explica as razões para a queda de 0,5 ponto percentual na taxa Selic em reunião na semana passada, de 13,25% ao ano para 12,75% ao ano.
De acordo com o documento, essa ociosidade mais apertada contribuiu para uma revisão para cima das projeções de inflação do Copom, ao lado da “elevação do preço de petróleo, a depreciação cambial e a redução da trajetória Selic da pesquisa Focus”.
A ata do Copom trouxe que alguns membros “se mostraram particularmente preocupados com a possibilidade de metas desancoradas por um período longo”.
“ Prossegue o processo de desinflação, com a inflação de serviços desacelerando na margem”, diz o documento. “Alguns membros enfatizaram em particular a composição benigna recente da inflação e a queda na inflação de serviços, enquanto outros enfatizaram que os fundamentos subjacentes para a dinâmica da inflação de serviços, em particular a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho, ainda não permitem extrapolar com convicção o comportamento benigno recente.”
Fonte: Valor Econômico

