O Grupo Azevedo e Travassos anunciou em Fato Relevante que fechou um acordo com a JiveMauá, gestora independente com R$ 25 bilhões sob gestão, para obtenção de R$ 464 milhões. Os recursos serão usados nas duas concessões de rodovias que a Azevedo e Travassos conquistou nos últimos meses e em um projeto com a PetrobrasCotação de Petrobras, no Rio.
Ontem à noite, a Reag Investimentos, que foi um dos alvos da Operação Carbono Oculto em agosto, saiu do bloco de controle da empresa com venda de sua participação por meio do Camaçari Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia à Nemesis Brasil Participações, holding do presidente do grupo, Gabriel Freire. Além disso, João Carlos Mansur, fundador da Reag, renunciou à presidência do Conselho de Administração da Azevedo e Travassos e também à posição de membro do colegiado.
A Carbono Oculto busca elos do crime organizado com instituições do mercado financeiro e as investigações apontam que mais de uma dezena de fundos sob administração da Reag teriam sido usados para fins ilícitos. Desde a deflagração da operação, o grupo Reag, fundado por João Carlos Mansur, anunciou tratativas para a venda de outros três negócios: a Ciabrasf, a empresa de administração de fundos e custódia, a Reag Investimentos e a gestora de crédito Empírica.
No Grupo Azevedo e Travassos, a Reag entrou há pouco mais de um ano, quando a construtora cindiu sua divisão de petróleo e se fundiu com MKS e Aviva, que atuam no setor de petróleo e são controladas pela Reag e a 4i Capital, para aumentar sua atuação no setor de infraestrutura.
Gabriel Freire assumiu a presidência em dezembro 2024 após atuar no processo de reestruturação e reposicionamento estratégico da empresa por cinco anos. A empreiteira foi fundada em 1922. A Azevedo e Travassos já era listada na B3 e passou a ser focada em prestação de serviços de engenharia e gestão de concessões de saneamento básico e rodovias. No início deste ano, a Azevedo e Travassos Energia estreou na bolsa.
Em dezembro de 2024, a empresa ganhou a concessão da Rota Verde, em Goiás, corredor arrematado que inclui um trecho que parte de Rio Verde até a capital Goiânia e outro também de Rio Verde até Itumbiara (GO). Em agosto deste ano, consórcio da Azevedo e Travassos levou a Rota Agro, que inclui um corredor de 490 quilômetros entre Rondonópolis (MT) e Rio Verde (GO) e será alvo de investimentos de R$ 4,4 bilhões.
Com os problemas afetando a Reag, o grupo começou as negociações com a JiveMauá e outras gestoras há duas semanas. A Azevedo e Travassos tem urgência em receber os recursos, porque terá de apresentar à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) R$ 400 milhões em capital regulatório das duas concessões, uma parte em outubro e outra dezembro.
A JiveMauá ganhou a disputa mas com a condição de que a Reag saísse completamente do quadro acionário do grupo, segundo contou ao Valor Alexandre Cruz, sócio e CEO da gestora. “Os ativos das concessões foram disputados. Estavam encapsulados numa companhia com problemas de liquidez e controle societário”, disse ele.
Samer Serhan, sócio responsável por Crédito Privado e Infraestrutura e Previdência, explicou que os recursos para o grupo vão sair de dois fundos da gestora. Do fundo de special situations, ou seja, voltado a ativos com problemas, serão R$ 50 milhões. E R$ 414 milhões do fundo de infraestrutura, especificamente nos projetos de concessão de rodovias, mesclando equity e crédito privado. “Os pedágios começam a entrar rapidamente, já os contratos com a PetrobrasCotação de Petrobras demoram mais a performar. Com a empresa saneada, depois a operação pode migrar para outros fundos com condições melhores”, comentou.
Bruno Gomes, sócio e responsável pela estratégia de Distressed & Special Sits da gestora, destaca que, juntas, a Rota Verde e a Agro preveem investimentos da ordem de R$ 13 bilhões, em 20 a 30 anos de concessão, o que coloca a JiveMauá em posição de liderança desse financiamento. “É uma situação que conhecemos a fundo, de empresas com problemas e bons ativos. São duas concessões que podem unir fundos com perfis diferentes e complementares, trazendo soluções de capital inteligente.” Já Cruz vê a operação como uma “porta de entrada em um player que vai ter muita relevância na família de fundos de crédito de infraestrutura”, grande aposta da gestora. “O Brasil precisa de muitos investimentos em infraestrutura e há muitos certames previstos.”
Fonte: Valor Econômico