Por Pedro Borg, Valor — São Paulo
18/12/2023 15h42 Atualizado há 14 horas
O aumento na criminalidade pode afetar diretamente o desempenho econômico das nações, especialmente na América Latina e Caribe, onde uma elevação de 30% da taxa de homicídios de um país pode reduzir seu crescimento econômico em pelo menos 0,14 ponto percentual, segundo estudo publicado ontem no blog do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A pesquisa mostra que a criminalidade afeta a produção e o acúmulo de riqueza na medida em que provoca medo de roubos e violência em investidores, que ficam mais receosos em aplicar seus recursos nesses países. O FMI também destaca que o aumento da violência pode afetar a produtividade, já que a insegurança provoca a aplicação de recursos para setores com investimentos de menor produtividade, como o de segurança privada.
A região de América Latina e Caribe é responsável por quase metade dos homicídios dolosos do mundo, mesmo sendo residência para apenas 8% da população mundial, segundo dados da ONU, colocando a questão da violência no centro das discussões dos países da área.
“A taxa média de homicídios na região é 10 vezes superior à de outros países emergentes e economias em desenvolvimento e duas vezes superior à da África Subsariana. Dentro da região, a América Central se destaca como a sub-região mais violenta”, disse o FMI no relatório.
Segundo o estudo, reduzir o nível de criminalidade na América Latina para a média mundial aumentaria o crescimento econômico anual da região em 0,5 pontos percentuais, cerca de um terço do crescimento médio da América Latina entre 2017-19.
“A violência é uma questão econômica e social com consequências de longo prazo e uma variedade de origens que são interligadas. Se os governos da região fossem capazes de priorizar as estratégias mais eficazes de combate ao crime, estas não só melhorariam a segurança pública, mas também aumentariam o potencial econômico da região”, diz o FMI ao final do estudo.
No período analisado pelo FMI, entre 2017 e 2019, a violência na América Latina vinha registrando altas principalmente no México, Venezuela, El Salvador e Brasil. O México chegou, em 2017, a 70 assassinatos por dia e 20,5 para cada 100 mil habitantes. El Salvador registrou 60,8 por 100 mil e a Venezuela, 57 por 100 mil. No mesmo ano, o Brasil teve 27 mortos para cada 100 mil habitantes.
Nos últimos anos, a violência cresceu significativamente também no Equador, mas o FMI só deve avaliar os reflexos disso em seus próximos estudos.
Com o crescimento da violência, os governos da América Latina já estão obrigados a destinar uma parte considerável dos seus recursos a gastos com ordem e segurança públicas. “Não é de surpreender que os gastos mais elevados ocorram em países com taxas de criminalidade mais elevadas – países como El Salvador e a Jamaica já gastam mais de 2% do seu PIB nesta questão”, diz o estudo.
Embora estas despesas substanciais possam ser necessárias para mitigar e dissuadir a criminalidade, elas também sugerem que a implementação de estratégias mais eficazes poderia liberar recursos significativos para outras prioridades de despesas.
Fonte: Valor Econômico

