Por Sérgio Tauhata — De São Paulo
29/04/2024 05h02 Atualizado há 5 horas
Uma mudança regulatória ocorrida no início do ano era vista como um fator que poderia levar a uma queda nas emissões de certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e, potencialmente, impactar a indústria de fundos imobiliários (FII). Mas, na verdade, dados levantados pelo Clube FII mostram que ocorreu o contrário: o volume mensal médio de emissões de janeiro até a segunda semana de abril mais que duplicou comparado ao mesmo período de 2023.
No início de fevereiro, o Conselho Monetário Nacional (CMN) publicou uma resolução que restringiu os tipos de lastro elegíveis para as emissões dos papéis securitizados isentos, como o CRI. Com as novas regras, cerca de 30% das operações realizadas em 2023 teriam sido barradas, caso dos chamados “CRIs de aluguel”. Nesse formato, empresas de qualquer setor utilizavam os recebíveis de locação como garantia dos certificados.
O levantamento do Clube FII, que abrange desde o início do ano até a segunda semana de abril, revela que, em termos de volume financeiro, a emissão de certificados de recebíveis imobiliários deu um salto na comparação anual. Em janeiro, os R$ 4,42 bilhões ofertados representaram uma alta de 287,49% ante o primeiro mês do ano passado. Em fevereiro, o avanço alcançou 163,52% na mesma base, com R$ 5,51 bilhões emitidos. Em março, o volume foi 77,5% acima do terceiro mês de 2023, com captação de R$ 5.83 bilhões. E na primeira quinzena de abril, houve 34,7% de expansão na comparação anual para R$ 2,15 bilhões.
“Houve uma adaptação muito rápida das securitizadoras de buscar novos tipos de operações”, afirma o sócio e diretor de investimentos alternativos do Clube FII, Felipe Ribeiro. “A expectativa de impacto negativo não se confirmou neste início de ano. O CMN conseguiu realizar o objetivo de direcionar as ofertas para o desenvolvimento imobiliário.”
Conforme Ribeiro, “o que está saindo de operação no mercado é direcionado ao desenvolvimento imobiliário”. O especialista explica que as securitizadoras e os coordenadores das estruturações de CRIs têm conseguido trazer para o mercado novas empresas imobiliárias. “O que estou vendo é que pequenas incorporadoras estão captando numa taxa mais alta, pagando pedágio para entrar no mercado de capitais, mas as operações têm sido estruturadas de tal maneira que elas conseguem se beneficiar.”
Conforme Ribeiro, “não sabemos dizer se esse movimento vai continuar”. Para o especialista, “pode ser que a gente veja um impacto [da decisão do CMN] mais lá na frente, mas, por enquanto, os números mostram que a resolução parece ter dado certo”.
Fonte: O Estado de S. Paulo

