A economia da China vem dando sinais de estabilização depois que Pequim anunciou as medidas de estímulo mais ousadas desde a pandemia, embora as eleições nos EUA, na semana que vem, injetem incerteza nessa recuperação.
A atividade industrial expandiu inesperadamente em outubro, após cinco meses de contração, segundo informou nesta quinta-feira a Agência Nacional de Estatísticas. O índice oficial dos gerentes de compras (PMI) do setor industrial subiu para 50,1 pontos, maior que a previsão dos economistas, de 40,9. O PMI não industrial mostrou que a atividade nos setores da construção e serviços aumentou, após permanecer praticamente inalterada no mês anterior.
“É positivo que o PMI tenha superado as expectativas e houve alguns sinais de recuperação, mas ainda estamos sob a sombra das eleições nos EUA, que continuam sendo um fator imprevisível para as perspectivas de crescimento,” diz Eddie Cheung, estrategista sênior de mercados emergentes da Credit Agricole CIB.
As ações chinesas oscilaram entre ganhos e perdas na manhã desta quinta-feira, com o índice referencial CSI 300 chegando a subir 0,9%, após perder 0,8% antes. O yuan offshore teve pouca alteração e o rendimento dos bônus soberanos de dez anos da China permaneceu estável em 2,16%.
As pesquisas do PMI fornecem os primeiros indicadores oficiais para o mês, depois que a China fez cortes expressivos nas taxas de juros e anunciou medidas para estimular o mercado imobiliário no final de setembro. O aumento na atividade contrariou a retração esperada devido ao menor número de dias úteis em outubro por causa de um feriado de uma semana.
As leituras são “um bom começo” para o quarto trimestre, segundo Raymond Yeung, economista-chefe do Australia & New Zealand Banking Group para a Grande China. “Acreditamos que o PMI permanecerá expansionista nos próximos dois meses,” disse.
Os economistas preveem, depois disso, que a China vai alcançar sua meta oficial de crescimento de cerca de 5% este ano. Pesquisa mais recente da Bloomberg mostra que a estimativa é de que a economia chinesa crescerá 4,8%.
O futuro é menos certo, especialmente com a eleição presidencial nos EUA na semana que vem, que poderá devolver Donald Trump à Casa Branca em janeiro. O ex-presidente vem ameaçando impor tarifas de 60% sobre os produtos chineses, uma medida que dizimaria as exportações do país para seu maior parceiro comercial individual e prejudicaria um ponto positivo da economia chinesa.
As exportações chinesas impulsionaram a economia este ano, com as remessas até setembro atingindo o segundo maior valor já registrado, embora o ritmo de crescimento tenha diminuído. Dados divulgados nesta quinta-feira mostram que os novos pedidos de exportação para empresas manufatureiras permaneceram fracos e continuaram encolhendo este mês, mesmo com a estabilização geral dos novos pedidos.
“Este é um relatório PMI encorajador. Mas a economia ainda precisa de apoio político para levar o crescimento até a meta de 5%. Esperamos que as autoridades continuem proporcionando os estímulos que foram anunciados, assegurem que as medidas sejam implementadas e ganhem força,” disseram Chang Shu e David Qu, da Bloomberg Economics.
Uma possível reeleição de Trump daria a Pequim mais motivos para reforçar o apoio à demanda interna no próximo ano. Os principais legisladores deverão votar um pacote fiscal muito aguardado na próxima sexta-feira, o que poderá fornecer pistas para os estímulos no ano que vem.
Em um podcast da Bloomberg Intelligence, Weijian Shan, presidente executivo do conselho da PAG, uma das maiores gestoras alternativas de recursos da Ásia, disse que uma guerra comercial mais acentuada com os EUA poderá levar a China a reorientar sua economia “para longe dos investimentos e das exportações, em direção ao consumo privado”.
A atividade no setor de serviços recebeu um impulso das viagens de férias e do consumo, com o subíndice voltando a crescer, depois de encolher em setembro. Os preços de venda tanto no setor manufatureiro quanto no não-manufatureiro apresentaram melhora, embora ainda em contração.
“Olhando para o futuro, precisaremos ver se a implementação dos estímulos poderá levar a uma recuperação da demanda interna para compensar o que parece ser um quadro de demanda externa ainda enfraquecido,” disse Lynn Song, economista-chefe do ING Bank para a Grande China.
Nos três meses até setembro, a economia chinesa cresceu no ritmo mais lento em seis trimestres. Uma crise no mercado imobiliário residencial reduziu o apetite dos consumidores, e a economia enfrenta desafios de longo prazo, como o aumento das tensões comerciais, as pressões deflacionárias persistentes e o encolhimento populacional. A confiança do consumidor caiu em setembro para o nível mais baixo desde 2022.
Na terça-feira, o presidente Xi Jinping pediu às autoridades que se esforcem para atingir a meta de crescimento anual. Foi, pelo menos, sua quarta exortação em dois meses, num sinal da intenção de Pequim de conter a desaceleração.
Após o pacote de políticas, economistas elevaram suas previsões para o crescimento do PIB chinês no quarto trimestre de 4,6% para 4,8%.
Fonte: Valor Econômico

