O fundo Verde, liderado por Luis Stuhlberger, teve em novembro o seu melhor desempenho mensal no ano, com valorização de 2,91% da cota. No acumulado de 2023, o multimercado ganha 10,85%, ainda aquém dos 12,04% do CDI no período.
No mês passado, a gestão extraiu resultados nas parcelas da carteira de ações no Brasil e no exterior, na posição aplicada em juros reais no mercado local e em juros nos Estados Unidos e Europa. As perdas vieram do livro de moedas, de estratégias ligadas a juros no Japão e de proteções na bolsa americana.
Na sua carta de gestão, a Verde descreve que houve uma significativa apreciação de todos os ativos de risco, com a correção das taxas de juros americanas, após uma sequência de quatro meses de fortes altas.
Foi o que “desanuviou o ambiente de investimentos, que combinado com posições bastante leves de boa parte dos investidores, impulsionou os mercados de maneira importante”. O índice americano S&P 500 subiu quase 9%, enquanto o Ibovespa avançou 12,5%.
“Nossa opinião de que havia um certo exagero no movimento de juros se mostrou correta, mas daqui para frente o cenário começa a se tornar mais complexo, especialmente com relação ao crescimento americano”, escreve a equipe da Verde. “Até que ponto a desaceleração que vimos recentemente vai evoluir para uma recessão é a pergunta de muitos trilhões para os próximos meses.”
O fundo aproveitou o rali e reduziu sua exposição em ações no Brasil e no exterior e manteve a posição aplicada em juros reais localmente. No mercado global, a gestão diminuiu as posições no Japão, zerou a parcela em taxas longas americanas, mas segue com exposição a juro real. A casa manteve ainda pequena alocação em petróleo e a exposição em crédito “high yield”, de maior potencial de retorno e risco, tanto aqui quanto lá fora.
Em moedas, o fundo Verde segue com posição comprada na rúpia indiana contra o renminbi chinês, além de ter elevado a fatia no peso mexicano. A gestora também voltou a ficar comprada no real em relação ao dólar.
Melhora estrutural da balança
No seu relatório, a Verde aponta que a balança comercial vem renovando seus recordes, com um saldo que superou os US$ 90 bilhões em novembro, no acumulado de 12 meses, o maior da história.
Embora as previsões para 2024 sejam de alguma moderação, os resultados recentes apontam na direção oposta, já que a média anualizada dos últimos três meses se aproxima dos US$ 130 bilhões, dia a carta aos investidores.
“Acreditamos que a manutenção desse novo patamar, próximo a US$ 100 bilhões (o dobro do pré- pandemia), é um fator relevante na determinação da taxa de câmbio”, pontua a Verde.
Uma eventual correção desse superávit estaria relacionado a uma queda dos preços dos itens exportados, que hoje estão 30% acima do nível pré-pandemia, enquanto os importados estão 20% mais caros. Os bens exportados já caíram 15% desde o pico e mesmo assim o saldo comercial vem crescendo.
O time da Verde nota que a evolução dos preços explica apenas parte da história. Nos últimos anos, os produtos que mais ganharam participação na pauta de exportações foram petróleo e soja, devido ao aumento da quantidade vendida para o exterior. Os dois “passaram por uma onda de investimentos, que parece produzir ganhos estruturais”.
Pensando em 2024, eventos climáticos podem levar a quedas pontuais nas safras, mas também a alguma recuperação de preços, mitigando perdas em valor, prossegue a equipe de gestão. “A queda esperada nas principais safras não parece suficiente para causar uma grande reversão na balança, e mesmo que cause, tende a ser um efeito passageiro.”
O novo normal para o Brasil é conviver com saldos comerciais da ordem de R$ 100 bilhões ou até acima disso, segundo a Verde.
“Umas das críticas, bem válida por sinal, a essa leitura construtiva do resultado da balança comercial e suas possíveis implicações, é que por ora o fluxo cambial não cresceu proporcionalmente, e o BCB não vem acumulando reservas. O argumento faz sentido, mas no ciclo dos anos 2000 a exportação foi o primeiro fundamento a melhorar (de 2002 a 2005), a entrada em renda fixa, ações e investimento direto (e a consequente acumulação de reservas), veio depois”.
Outra coincidência é que nos anos 2000, o ciclo comercial veio junto com a alta da taxa de juro nos EUA, enquanto essas outras linhas de fluxo só melhoraram consistentemente quando o Fed estava próximo a cortar os juros. “Não podemos garantir, mas não dá para descartar a hipótese de que a balança é de alguma forma antecedente de ventos ainda mais favoráveis vindos de fora, que ficarão mais evidentes quando os juros americanos começarem a cair”.
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Luis Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset — Foto: Anna Carolina Negri/Valor
Fonte: Valor Econômico
