Por Paul Berger e Costas Paris, Dow Jones
10/01/2024 17h35 · Atualizado há 12 horas
Muitos importadores ocidentais relatam uma forte alta nas tarifas de transporte marítimo e atrasos de semanas em função dos desvios de navios do Mar Vermelho para evitar os ataques de rebeldes houthis.
Ontem, os rebeldes houthi lançaram o maior ataque contra embarcações no Mar Vermelho desde o início da guerra Israel-Hamas. As forças de defesa dos EUA e do Reino Unido interceptaram 18 drones, dois mísseis de cruzeiro e um míssil balístico. Não houve relatos de danos ou feridos, segundo o Comando Central dos EUA. Mas a persistente insegurança mantém os navios afastados da rota crucial.
Algumas empresas que estão sendo obrigadas a utilizar a rota mais longa, ao redor da África, mostram um crescente incômodo com a alta dos preços e as sobretaxas que as transportadoras vêm cobrando diante do aumento do custo resultante desse desvio.
Os custos médios internacionais para transportar contêineres de 40 pés quase dobraram desde o fim de novembro, de acordo com a firma londrina Drewry Shipping Consultants.
Nas rotas pelo Mar Vermelho que normalmente usariam o Canal de Suez, os aumentos também aceleraram nas últimas duas semanas. O preço no mercado à vista para levar contêineres entre a China e Roterdã, na Holanda, chegou a US$ 3.577 na semana encerrada em 4 de janeiro, um aumento de 115% em relação à semana anterior.
“O que todo cliente está tentando descobrir é se as propostas [de tarifas] atuais são condizentes com os custos adicionais das transportadoras e não são apenas um aumento geral [indiscriminado] das tarifas ou uma medida para compensar taxas mais baixas em outras rotas”, disse Colin Yankee, diretor de cadeia de suprimentos da rede varejista americana Tractor Supply, com sede no Tennessee.
Desde novembro, os rebeldes houthis lançaram cerca de 25 ataques a navios comerciais no Mar Vermelho, que proporciona acesso ao Canal de Suez e a rotas comerciais para a Europa Ocidental e os EUA. Pelo Canal de Suez passam cerca de 35% dos navios porta-contêineres e cerca de 30% das mercadorias destinadas aos portos da Costa Leste dos EUA, segundo a Everstream Analytics, de gestão de riscos da cadeia de suprimentos.
Os rebeldes dizem que seus ataques são uma resposta aos confrontos entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. Os ataques diminuíram de frequência nos últimos dias, após advertências de uma coalizão naval liderada pelos EUA e de respostas militares dos americanos e de outros países. Mesmo assim, Operadores de navios, como a A.P. Moller-Maersk e a Hapag-Lloyd, informaram que seus navios continuarão evitando a região.
Executivos da área de transporte marítimo estimam que as dez maiores operadoras de navios porta-contêineres transferiram cerca de US$ 200 bilhões em carga para longe do Mar Vermelho desde o início de dezembro. “Não colocaremos nossas tripulações e navios em perigo sob nenhuma circunstância”, disse Nils Haupt, porta-voz da alemã Hapag-Lloyd.
Os novos aumentos de custos estão ressuscitando as tensões entre importadores e transportadoras marítimas observadas após a escalada das tarifas durante a pandemia da covid-19, quando a demanda por fretes superou a oferta de navios e rendeu lucros recorde às transportadoras. Mesmo com os aumentos recentes, os preços ainda estão muito abaixo dos níveis da era da pandemia.
“Há um certo elemento de desconfiança, tendo em vista o passado recente”, disse Goetz Alebrand, chefe de transporte marítimo da DHL Global Forwarding Americas.
Segundo especialistas, os custos mais altos estão afetando até mesmo importadores que negociam contratos de longo prazo, porque as operadoras cobram sobretaxas que variam de centenas de dólares a mais de US$ 1 mil por contêiner para cobrir o aumento de custo decorrente dos desvios do Mar Vermelho. Para alguns, os problemas ainda são agravados pelas restrições no Canal do Panamá, onde uma seca limita o número de embarcações que podem transitar pela via navegável.
A mudança para rotas marítimas mais longas ao redor da África eleva os custos de combustível e de seguro, além de reduzir a disponibilidade de navios porta-contêineres, segundo Lars Jensen, executivo-chefe da firma de consultoria dinamarquesa Vespucci Maritime. Mas Jensen disse que os aumentos de tarifas estão sendo “substancialmente acima” do necessário para cobrir os custos extras.
“O que temos agora, do ponto de vista da transportadora, é uma bênção disfarçada”, disse Jensen.
Executivos do setor dizem que os preços mais altos e as sobretaxas são resultados dos custos mais altos de operar navios em viagens mais longas e da capacidade reduzida, pois os navios ficam no mar por períodos mais longos.
As travessias de navios porta-contêineres no Mar Vermelho como um todo caíram cerca de 20% em dezembro em relação a novembro, segundo corretores de Cingapura e Londres.
“Os serviços continuarão atrasados e com tempos de trânsito mais longos no curto prazo”, disse Jonathan Roach, analista de transporte marítimo de contêineres da Braemar, uma firma de consultoria londrina. “Como consequência, as tarifas de frete como um todo permanecerão elevadas e voláteis.”
Nathan Strang, diretor de frete marítimo da Flexport, uma empresa de cargas, de San Francisco, Califórnia, disse que um cliente que traz carga para o porto de Nova Orleans viu o tempo de entrega dobrar para 60 dias após o redirecionamento das remessas.
Fonte: Valor Econômico

