Por Alessandra Saraiva — Do Rio
07/10/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
Favorecido por quedas de preços espalhadas no atacado, o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) caiu 1,22% em setembro, após recuar 0,55% em agosto, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). O resultado ficou abaixo das projeções do Valor Data, cujo piso era de queda de 0,74%, além de ser a menor taxa desde abril de 2017 (-1,24%).
Para André Braz, economista responsável pelo indicador, o desempenho sinaliza taxas anuais de Índices Gerais de Preços (IGPs) abaixo de 7% em 2022. No ano passado, o indicador encerrou o ano com alta de 17,74%.
Ao explicar sua projeção para a inflação de 2022 mais baixa, na ótica do indicador, o técnico citou a forte influência do mercado internacional. Ele afirmou que há, no momento, fortes desacelerações e quedas de preços em commodities e em produtos relacionados. Isso derruba principalmente a inflação atacadista, que representa 60% dos IGPs e conta com muitos produtos desse tipo.
Como há sinais de que esse fenômeno pode prosseguir até fim do ano, com impacto nas taxas mensais dos IGPs, ele não descartou taxas anuais desse indicador na faixa de 6% no fim do ano. Em 12 meses até setembro, o IGP-DI acumula alta de 7,94%. Até agosto, era de 8,67%
“Pode ficar abaixo de 7%, a depender dos preços das commodities. Se continuarem a desacelerar, isso é possível”, afirmou ele.
Ao comentar sobre o impacto das commodities, em setembro, o técnico informou que das cinco quedas mais expressivas no setor atacadista, quatro eram commodities ou produtos relacionados. São os casos dos recuos observados em minério de ferro (-3,27%); óleo diesel (-4,06%); gasolina (-9,06%) e bovinos (-4,09%).
O técnico lembrou que a desaceleração de grandes economias, como China e Europa, tem levado a recuos e variações menores de preços em commodities, devido ao consequente enfraquecimento de demanda global. A recente desaceleração no preço do petróleo, no mês passado, influenciou a Petrobras a reduzir preços de combustível no mercado doméstico brasileiro.
Todos esses fatores reunidos levaram ao fortalecimento da deflação do Índice de Preços ao Produtor Amplo – Disponibilidade Interna (IPA -DI), afirmou Braz. De agosto para setembro, esse indicador, que representa preços do atacado, passou de -0,63% para 1,68%.
Outro aspecto mencionado por ele é que alguns recuos de matéria-prima, no atacado, também acabaram sendo repassados para respectivos derivados no varejo, que representa 30% do IGP-DI. Houve quedas de preço em gasolina (-8,68%); e etanol (-12,60%) em setembro junto ao consumidor. No entanto, o Índice de Preços ao Consumidor – Disponibilidade Interna (IPC-DI) voltou a subir, a passar de -0,57% para 0,02% de agosto a setembro, pressionado principalmente por reajuste em passagem aérea (23,75%). “Mas foi uma taxa muito próxima de zero [a do IPC]” comentou ele.
Ao ser questionado se tanto o IPA quanto o IPC poderiam continuar a cair ou a subir menos, o técnico observou que o atual efeito, de commodities com preço mais em baixa, sinaliza continuidade. Isso porque não há indícios de interrupção de menor ritmo de crescimento da economia mundial, notou ele. Caso a atividade global continue a desacelerar, com influência para reduzir preços de commodities, isso na prática deve ajudar a diminuir IPA e frear avanço do IPC – com prováveis repasses de quedas de preços do atacado ao varejo, nos próximos meses.
“Não estou dizendo que, com isso, os IGPs continuarão em deflação. O mais provável é que tenhamos taxas mais baixas, inferiores a iguais períodos no ano passado [na taxa mensal] – mas não necessariamente negativas” afirmou o economista da FGV. Assim, isso acabará por ajudar a reduzir taxa anual fechada do indicador, referente a 2022, reiterou ele.
A FGV informou ainda que o Índice Nacional do Custo da Construção – Disponibilidade Interna (INCC-DI) manteve-se em 0,09% de agosto a setembro.
Fonte: Valor Econômico

