Por Gabriel Caldeira e Eduardo Magossi — De São Paulo
25/05/2023 05h02 Atualizado há 5 horas
A ata da reunião dos dias 2 e 3 de maio do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed), divulgada ontem, trouxe poucas sinalizações novas sobre os próximos passos da política monetária do BC americano.
O principal ponto destacado por economistas foi a aparente divisão interna entre os integrantes do colegiado que defendem pausar o aperto monetário a partir de junho e aqueles que argumentam pela continuação das altas de juros.
De acordo com a ata, “muitos” dirigentes defenderam parar o aperto monetário após a última reunião. Seria uma resposta aos efeitos restritivos sobre o crédito da recente crise bancária e a incerteza relacionada ao impasse em Washington para elevar ou suspender temporariamente o teto da dívida dos EUA.
Economista-chefe do Morgan Stanley, Ellen Zentner projeta pausa da alta de juros em junho mas ressalta que o Fomc está dividido sobre o caminho a seguir. “O que foi acordado é a necessidade de manter a flexibilidade e ser dependente de dados”, pondera Zentner em relatório a clientes.
O economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, destaca que parece haver uma maioria de dirigentes favoráveis à pausa do aumento de juros. “Só que não parece uma ampla maioria”, alerta ele, ao lembrar que ao menos três dirigentes votantes do Fed se manifestaram a favor de subir mais os juros nos últimos dias: a presidente da distrital de Dallas, Lorie Logan; o líder do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari; e o diretor Christopher Waller.
Waller discursou ontem pouco antes da divulgação da ata. Ele se posicionou explicitamente contra a interrupção da alta de juros no mês que vem, mas abriu a possibilidade para subir só em julho, a depender das condições da inflação e do emprego.
Caruso também vê este cenário como possível. Segundo ele, o Fed pode adotar um “ciclo de alta intermitente”, subindo os juros apenas quando for necessário. “Isso não é incomum na história do Fed”, aponta.
Na mesma linha, o economista-chefe para EUA da Oxford Economics, Ryan Sweet, destaca a divisão mostrada pela ata e avalia que o Fomc só vai decidir sobre a reunião de junho depois dos dados de inflação e emprego que serão divulgados até meados do mês que vem.
Os integrantes do Fomc ainda destacaram na ata a importância de uma resolução do impasse do teto da dívida para “evitar choques financeiros e econômicos”. Eles também discutiram formas de se preparar para responder a uma eventual crise da dívida.
“Comentários agressivos recentes sugeriram que o Fed está aberto a aumentar os juros novamente já no próximo mês. Mas, dada a possibilidade muito real de que a crise do teto da dívida esteja atingindo seu ápice durante a reunião do Fomc em 13 e 14 de junho, suspeitamos que isso não acontecerá”, diz o economista-chefe para América do Norte da Capital Economics, Paul Ashworth.
Para ele, uma nova alta só viria caso a dívida americana deixe de ser um problema antes da próxima reunião do BC americano.
Fonte: Valor Econômico

