O mercado viu uma postura mais cautelosa do Federal Reserve (Fed, banco central americano) na reunião de setembro diante de uma divisão mais intensa do colegiado do que o placar da decisão deixou transparecer, o que refletiu no comportamento dos Treasuries e do dólar no exterior. Com isso, a chance de um corte menor nos juros em novembro, de 0,25 ponto, se consolidou ainda mais, ao mesmo tempo em que um cenário de manutenção dos juros americanos no próximo mês ganhou força.
No fim do dia, os contratos futuros dos Fed funds, compilados pelo CME Group, indicavam 70,4% de chance de uma redução de 0,25 ponto nos juros americanos em novembro. Já a probabilidade de manutenção das taxas no intervalo entre 4,75% e 5% passou a ser de expressivos 29,6% ontem.
“Não surpreendentemente, houve um debate sobre se o Fed cortaria os juros em 0,25 ponto ou em 0,5 ponto”, diz o economista-chefe para EUA do J.P. Morgan, Michael Feroli, ao notar que, de acordo com a ata, alguns dirigentes compartilharam a visão mais cautelosa da diretora Michelle Bowman, que foi a única dissidente ao votar por uma redução menos intensa dos juros em setembro.
“No geral, a ata não nos leva a revisitar nossa visão de que, a menos que as condições do mercado de trabalho se deteriorem, um ritmo de cortes de 0,25 ponto por reunião é a perspectiva atual nos próximos meses”, avalia Feroli. A projeção do J.P. Morgan foi alterada na sexta-feira, após os dados de emprego dos EUA referentes a setembro surpreenderem fortemente as expectativas dos agentes.
Esse sentimento se refletiu, sobretudo, no mercado de Treasuries, em que as taxas voltaram a ficar acima de 4%, após já terem atingido esse nível no início da semana. O rendimento do papel de dois anos da dívida pública americana subiu de 3,967% para 4,030%, enquanto a taxa da T-note de dez anos passou de 4,017% para 4,069%.
“Vemos as taxas dos Treasuries em níveis justos no momento”, dizem os estrategistas de renda fixa americana da Pimco em nota enviada a clientes. Para eles, inclusive, diante dos ciclos de redução de juros pelos bancos centrais de mercados desenvolvidos, é possível ver alguma atratividade nos papéis de prazo intermediário, em torno de cinco anos. No entanto, em relação a prazos mais longos, a gestora adota alguma cautela diante de altos déficits fiscais, que podem pressionar os juros de longo prazo.
Vale lembrar que, nos últimos dias, nas casas de aposta, a possibilidade de vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA de novembro voltou a superar a chance de vitória da democrata Kamala Harris. Por esse motivo, tanto os juros dos Treasuries longos quanto o dólar têm se mantido em níveis mais altos desde o início da semana.
Apesar da pressão dos Treasuries, as bolsas de Nova York seguiram em um ritmo de valorização e, em Wall Street, os índices Dow Jones e S&P 500 renovaram máximas históricas de fechamento na sessão de ontem, com apoio de ações de tecnologia e do setor de saúde, embora os ganhos no dia não tenham sido tão significativos.
O índice Dow Jones fechou em alta de 1,03%, aos 42.512 pontos; o S&P 500 subiu 0,71%, aos 5.792,04 pontos; e o índice Nasdaq avançou 0,60%, para 18.291,62 pontos. O contexto foi de melhora no sentimento dos agentes com as ações americanas. No início da semana, os estrategistas de renda variável do Goldman Sachs elevaram a projeção para o S&P 500 no fim deste ano de 5,6 mil pontos para 6 mil pontos, enquanto a meta para o índice nos próximos 12 meses passou para 6,3 mil pontos.
Fonte: Valor Econômico

