A ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que será divulgada amanhã, deverá trazer mais informações sobre as incertezas do cenário doméstico e internacional que levaram a um encurtamento da sinalização futura dos juros.
O colegiado baixou os juros de 11,25% ao ano para 10,75% ao ano e indicou uma nova redução de 0,5 ponto percentual para o seu próximo encontro, marcado para maio. Até então, o colegiado vinha indicando baixas de juros para as duas reuniões seguintes.
A justificativa do Banco Central é que as incertezas aumentaram e, portanto, seria contraproducente seguir fazendo uma indicação para os juros para a um prazo tão longo, já que atualmente são maiores as chances de o cenário previsto para o futuro não se confirmar.
Pela reação dos juros futuros, o mercado financeiro acha que a situação inflacionária piorou. As apostas para o corte dos juros dentro de duas reuniões, em junho, pendem um pouco mais para o lado de um movimento de 0,25 ponto percentual. A taxa terminal chegou a ser precificada em 9,75% ao ano no dia seguinte à reunião do Copom, ou 9,5%, caso se desconte o prêmio.
No comunicado divulgado na semana passada, o Copom fez um grande esforço para mostrar que o encurtamento da sinalização não significava uma mudança no cenário-base e, portanto, na trajetória de baixa de juros que ele ensejava.
O Copom manteve a projeção de inflação para 2025, ano que estará no centro da estratégia de baixa de juros, em 3,2%. Está acima da meta, de 3%, o que significa que os juros não podem cair aos 9% ao ano previsto pelo mercado. Mas o que importa é que, na visão do comitê, o cenário-base não mudou substancialmente entre as reuniões de janeiro e março.
Salta aos olhos que o Copom manteve a sua projeção de inflação em 3,2% a despeito de ter revisto para cima, de 3,8% para 3,9%, a sua estimativa para a variação dos preços administrados. Isso quer dizer que, entre as suas reuniões de janeiro e março, o Copom revisou para baixo a sua estimativa para a inflação dos preços livres. Deve-se lembrar que, nas últimas semanas, surgiram sinais de crescimento mais forte da atividade. O nível de ociosidade dos fatores de produção deve ter caído, o que, em tese, deveria pressionar a inflação de preços livres.
Alguns analistas econômicos acreditam que o Copom manteve a sua projeção de inflação estável, apesar das forças que atuavam para elevá-la, para dar o recado de que não foi uma eventual piora no seu cenário-base que o levou a modificar a sinalização futura para a taxa de juros.
Também pode ser que outros preços livres sem relação tão direta com o grau de ociosidade da economia contribuíram para manter estável a projeção de inflação para 2025. O Copom costuma dar informações mais detalhadas sobre o que mexeu com as suas projeções no Relatório Trimestral de Inflação, que será divulgado na quinta-feira.
Amanhã, sai a ata do Copom, com informações sobre os debates que os membros do colegiado fizeram sobre os fatores que estão destacados no balanço de riscos para a inflação. O que todo mundo estará de olho é no detalhamento das incertezas identificadas pelo comitê.
Uma parte dos analistas econômicos discorda da leitura do Copom de que houve um aumento na incerteza internacional entre as reuniões de janeiro e março. Eles lembram que, na semana passada, o Federal Reserve (Fed) emitiu uma mensagem mais positiva do que o esperado, quando seus membros mantiveram a previsão de três cortes nos juros neste ano. O BC da Suíça cortou os juros em seguida, de forma inesperada, e o Banco da Inglaterra informou que está na “direção certa” para a redução da sua taxa básica. Alguns lembram que o Fed poderá cortar o juros em junho, uma semana antes de o Copom decidir se segue baixando a meta para a taxa Selic em 0,5 ponto ou se desacelera a 0,25 ponto.
Será importante o BC esclarecer esse aumento da incerteza externa para que não ganhe corpo a crença entre os analistas econômicos de que, na verdade, essa seria uma cortina de fumaça para não revelar uma suposta preocupação com o tema politicamente sensível das surpresas na atividade econômica e aquecimento do mercado de trabalho.
O Valor conversou com alguns analistas econômicos que afirmam que a alta para o PIB, que vem sendo reestimada para cima e já se encontra em 1,8% no boletim Focus, se aproxima do crescimento potencial, que o questionário pré-Copom de dezembro estimava em 1,9%.
O Copom está fazendo uma leitura mais cuidadosa da interação entre o grau de aquecimento da economia e a inflação. No ano passado, quando a inflação de serviços caiu de forma acelerada, o BC não embarcou na tese de que ganhos de produtividade permitiam à economia crescer mais sem pressionar a inflação. Mais recentemente, quando a inflação de serviços surpreendeu para cima, o BC tem tido certa paciência em ler dados antes de uma conclusão.
Em janeiro, o Copom disse que “seguirá atento à dinâmica dos rendimentos nas diversas pesquisas para melhor avaliar o grau de ociosidade no mercado de trabalho e seus potenciais impactos sobre a inflação de serviços”. Espera-se que, na ata, o Copom dê mais detalhes do que viu desde então para concluir que a incerteza aumentou.
Alex Ribeiro é repórter especial e escreve quinzenalmente
E-mail: alex.ribeiro@valor.com.br
Fonte: Valor Econômico

