Após ter optado por manter a Selic em 15% ao ano na última reunião e ter adotado um tom mais cauteloso ao falar sobre o futuro, o Banco Central afirmou que seguirá avaliando se a estratégia atual será suficiente para controlar a inflação. Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (23), o BC afirmou que “há uma moderação gradual da atividade, certa diminuição da inflação corrente e alguma redução nas expectativas”, mas reforçou que a postura agora é de avaliar os impactos dos juros altos.
“O Comitê seguirá vigilante e não hesitará em retomar ciclo de alta se julgar apropriado”, afirmou o BC na ata.
É importante lembrar que o mercado vinha se animando com a perspectiva de uma Selic menor graças a dados econômicos arrefecidos. No entanto, a Pnad Contínua, divulgada na semana passada, jogou um balde de água fria nessas previsões ao mostrar que o mercado de trabalho segue pujante.
O Banco Central reconheceu que as leituras recentes da inflação mostram uma dinâmica “mais benigna em relação ao que se previa no início do ano” e afirmou que “o câmbio mais apreciado e o comportamento das commodities contribuiu para redução nas inflações de bens industrializados e alimentos”. No entanto, a inflação de serviços, uma das principais preocupações da autoridade monetária foi avaliada como “mais resiliente”.
Expectativas para a inflação
Apesar da inflação vir dando sinais de arrefecimento, o BC destacou que os núcleos (ou seja, a inflação descontados os itens mais voláteis, como alimentos energia) têm se mantido acima do valor compatível com o atendimento da meta há meses.
É importante frisar que a meta de inflação perseguida pelo BC é de 3% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, o que levaria o máximo tolerado para 4,5%.
Segundo o BC, a reancoragem das expectativas de inflação “exige perseverança, firmeza e serenidade”. “A desancoragem das expectativas é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê”, completou o BC.
Essas “expectativas desancoradas” são as projeções da inflação distantes da meta perseguida pela autoridade monetária no chamado “horizonte relevante” da política monetária. Neste caso, 2025 em diante.
Essas expectativas importam por terem certo poder de autorrealização. Ao esperarem inflação mais alta lá na frente, produtores acabam remarcando preços para cima para se proteger da alta de custos. Já consumidores antecipam intenções de compra.
E, na prática, essa inflação esperada mais alta pode acabar se materializando. Nesse cenário, se o BC afrouxa a política de juros, corre o risco de passar a impressão de inflação ainda mais descontrolada no futuro.
Política fiscal também é preocupação
O Banco Central ainda voltou a afirmar a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas.
“A política fiscal tem um impacto de curto prazo, majoritariamente por meio de estímulo à demanda agregada, e uma dimensão mais estrutural, que tem potencial de afetar a percepção sobre a sustentabilidade da dívida e impactar o prêmio a termo da curva de juros”, diz o documento. “Uma política fiscal que atue de forma contracíclica e contribua para a redução do prêmio de risco favorece a convergência da inflação à meta.”
O comitê voltou a dizer também que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia.
Segundo o colegiado, isso tem impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade. “O Comitê manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas”, afirma.
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Fonte: Valor Investe

