Por Michael Stott, Financial Times
14/05/2023 14h57 Atualizado há 13 horas
O governo da Argentina anunciará nesta segunda-feira (15) os detalhes de uma nova rodada de medidas de emergência, que incluem o aumento das taxas de juro em 600 pontos-base, para 97%, na tentativa de evitar a pior crise econômica do país em duas décadas.
O governo peronista está desesperado para impedir que haja uma grande desvalorização antes das eleições de outubro. Mas o país também está ficando sem reservas internacionais, à medida que os argentinos abandonam o peso que se desvaloriza rapidamente e adotam o dólar americano.
Impulsionada pela impressão de dinheiro para financiar o déficit do governo, a inflação anual a 108,8% em abril, o nível mais alto desde 1991. O Ministério da Economia informou neste domingo (14) que o banco central aumentará suas intervenções no mercado de câmbio para tentar frear a queda do peso.
O ministro da Economia, Sergio Massa, vai tentar convencer o Fundo Monetário Internacional (FMI) a antecipar o desembolso dos empréstimos acertados e viajará à China no dia 29 de maio para buscar um uso maior do yuan no comércio exterior. No mês passado, a Argentina usou um swap cambial com a China que lhe permite pagar mais de US$ 1 bilhão de suas importações neste mês em yuans. Massa também quer acelerar o intercâmbio de moeda com o Brasil.
O FMI já mostrou leniência com a Argentina nos últimos meses, ao permitir mais flexibilidade nas metas de aumento das reservas e de redução da impressão de dinheiro, em um esforço para manter no rumo o programa de empréstimos de US$ 44 bilhões. É pouco provável que se disponha a antecipar desembolsos nos meses anteriores a uma eleição que deve ser crucial e na qual o governo quase certamente sairá derrotado.
Massa também planeja permitir a importação de alimentos com tarifa zero para reduzir a inflação, o que é inédito em um país que é um dos maiores exportadores de grãos do mundo. Além disso, o governo reduzirá as taxas de juro de um esquema estatal para que os argentinos possam comprar produtos fabricados localmente a crédito, como parte de um programa de apoio à indústria nacional.
O novo pacote de medidas não representa uma mudança de rumo, mas uma tentativa de reiterar políticas de forte intervenção estatal que não foram capazes de reduzir a inflação nem impulsionar a economia. Também envolve riscos: os aumentos constantes das taxas de juro encarecem o serviço de uma dívida interna imensa.
“Isso apenas empurra o problema alguns centímetros para a frente”, disse Hector Torres, ex-diretor-executivo do FMI e diplomata argentino que agora está no think-tank canadense CIGI.
“Não tenho nada contra os BCs usarem reservas para acalmar a volatilidade e combater os especuladores. Mas já estamos sem reservas, profundamente endividados com o FMI e sem acesso aos mercados de capitais. Nessa situação, vender o que devemos ao FMI para dar suporte a uma taxa de câmbio claramente insustentável é uma imprudência. Isso é só um convite para que os especuladores apostem em um novo calote”.
Economistas criticam os controles cambiais e de preços do governo por criar grandes distorções, desencorajar investimentos e deprimir a produção. A expectativa de muitos analistas é de que a Argentina entre em recessão neste ano e a Oxford Economics prevê uma queda de 1,6% no Produto Interno Bruto (PIB), o pior cenário para qualquer das grandes economias latino-americanas.
No meio a uma disputa amarga sobre política entre o presidente Alberto Fernández e sua poderosa vice-presidente, Cristina Fernández de Kirchner, Massa é visto como uma das poucas opções que restam ao movimento peronista para a candidatura presidencial nas eleições de outubro.
Mas seu plano de tentar consertar a economia com intervenções temporárias para evitar medidas de austeridade dolorosas antes das eleições tem enfrentado dificuldades cada vez maiores, agravadas por uma forte seca que prejudicou as exportações agrícolas. As chances de Massa como candidato dependem do sucesso de seu plano econômico nos próximos meses.
A oposição de centro-direita está dividida entre o prefeito de Buenos Aires, o centrista Horacio Rodríguez Larreta, e a candidata conservadora Patricia Bullrich. Com isso, um candidato de extrema direita, Javier Milei, tem subido rapidamente nas pesquisas.
Ministério da Economia informou ainda que medidas adicionais devem ser anunciadas nos próximos dias.
Fonte: Valor Econômico
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