A Arch Capital (ex-Autonomy), gestora tradicional de investimentos em prédios residenciais, escritórios e galpões logísticos, está dando andamento ao seu novo plano de negócios, voltado para o segmento de data centers. No ano passado, o grupo fundou a 247 Data Centers, empresa que tem como objetivo desenvolver e operar empreendimentos em um raio de até 300 quilômetros da cidade de São Paulo, maior centro consumidor do País. De lá para cá, foram negociados cinco terrenos, e os projetos estão em fase de licenciamento.
O plano prevê a implementação de 150 a 200 megawatts de capacidade ao longo dos próximos seis a sete anos. No mercado, o custo estimado de um projeto desse porte gira em torno de US$ 1 bilhão. Neste momento, a Arch está em busca de parceiros locais ou estrangeiros para levar adiante o plano. O foco será atender clientes do segmento de hiperescala, que tem demandas mais altas de processamento de dados, como é o caso de big techs.
O sócio fundador e presidente da Arch Capital, Roberto Miranda de Lima, diz que a motivação para entrar no ramo foi a visão de que este mercado está pouco atendido. “Metade da demanda dos hyperscales que atuam no Brasil é contratada fora do País. E mesmo com todos os investimentos em andamento, a oferta de data centers vai continuar abaixo da demanda”, diz, em entrevista à Coluna.
Segmento é avaliado desde 2020
“Começamos a olhar essa tese em 2020. O fio condutor de todos os investimentos da Arch sempre foi cobrir a deficiência de ativos de qualidade no mercado”. Outro desafio, segundo Miranda, foi encontrar profissionais qualificados, algo que está escasso neste mercado em crescimento.
O grupo levou três anos para montar o seu ‘dream team’. Para a presidência da 247, foi contratado o executivo Rafael Garrido, que atuou na Vertiv, empresa norte-americana de infraestrutura para serviços de nuvem. Na direção também estão Bruno Pagliaricci (ex-Tivit e Odata), Carlos Alberto Zoppi (ex-Odata) e Josiel Shimoneck (ex-Scala).
O presidente da Arch defende a tese de que é essencial não só desenvolver os data centers, como também atuar na operação diária como forma de gerar valor. Isso porque os clientes do segmento de hiperescala exigem que o serviço esteja operante em 99,99% do tempo, ou seja, com o mínimo de falhas. “Pelas minhas contas, dá menos de 25 minutos de não funcionamento por ano”, brinca Miranda. Daí o nome da empresa ser 247, uma referência à operação ininterrupta de 24 horas nos 7 dias da semana.
O Brasil entrou um pouco tarde no radar dos investidores de data centers, mas esse cenário vem mudando com a digitalização crescente da economia local e a demanda por infraestrutura. Os investimentos na construção de data centers por aqui devem movimentar em torno de US$ 400 milhões em 2025 e US$ 1,5 bilhão em 2026, de acordo com a consultoria JLL. Com isso, o parque instalado caminha para crescer 40% nos próximos dois anos, atingindo um total de 638 megawatts.
Governo vai lançar política para o setor
Além disso, o governo federal está preparando uma política de atração de investimento que envolverá a redução de impostos federais e contrapartidas para empresas adensarem essa cadeia produtiva. Também é esperado que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) amplia as linhas de financiamento do ramo.
“O plano faz muito sentido. Os data centers são um tipo de infraestrutura crítica. O Brasil não se pode se dar ao luxo de que metade do seu fluxo de dados seja feito com bases fora do País”, avalia o presidente da Arch, citando latência menor e riscos de interferência. “Isso gera perda de competitividade para as empresas locais.”
Miranda acrescenta que a vantagem do País está na matriz energética renovável, com um custo relativamente moderado, algo essencial para este tipo de empreendimento, que consome muita água e energia para refrigeração dos equipamentos. Essas características naturais, somadas aos incentivos das políticas públicas, podem tornar o País uma referência global para o setor, vislumbra.
“Se o Brasil fizer a sua lição de casa e abrir caminho para investimentos em data centers, pode se tornar um exportador [de serviço de processamento de dados]”, acrescenta.
Esta notícia foi publicada no Broadcast+ no dia 04/07/2025, às 16:46.
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Fonte: Estadão
