À sombra da eleição de Donald Trump, líderes europeus se reuniram ontem em Budapeste e concordaram com a necessidade de assumir maior responsabilidade por sua própria segurança, em um esforço de reduzir a dependência dos EUA nesse setor.
A relação do republicano com seus pares europeus em seu primeiro mandato, de 2017 a 2021, foi turbulenta e ele ameaçou deixar de financiar a proteção dos aliados — como estabelecem tratados que atravessaram o período da Guerra Fria. Trump disse, na época, que não defenderia os europeus a menos que eles cumprissem as metas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar do Ocidente) em gastos com defesa. Na campanha eleitoral deste ano, ele reiterou seu ceticismo sobre a escala do apoio dos EUA à Ucrânia e propôs tarifas sobre importações que prejudicariam fabricantes europeus.
As incertezas sobre os futuros laços com Trump são mais altas agora na Europa, em um momento em que o continente está lutando para encontrar a unidade sobre temas econômicos e políticos e suas duas maiores potências, a Alemanha — cujo governo está ameaçado por uma crise interna — e a França, estão enfraquecidas.
“Chegamos a um acordo de que a Europa precisa assumir mais responsabilidade por sua paz e segurança”, disse o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán — que tem afinidades políticas com Trump. “Para ser franco, não podemos esperar que os americanos nos protejam”, afirmou Orban em seu discurso na capital da Hungria, onde mais de 40 líderes europeus estavam reunidos, na cúpula da Comunidade Política Europeia (EPC).
A EPC foi criada após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022 como canal de interlocução entre os países europeus.
Outros líderes fizeram discursos semelhantes ao de Orbán sobre o aumento da defesa europeia em clara reação à eleição de Trump.
“Não podemos delegar nossa segurança aos americanos para sempre”, disse o presidente francês, Emmanuel Macron, que há muito tempo pressiona a Europa para construir cooperação entre os países do continente.
Macron qualificou a reeleição de Trump como “um momento decisivo” para a Europa, que exige que a região defenda seus próprios interesses como prioridade — assim como os EUA o fazem especialmente em defesa e comércio. “O mundo é feito de herbívoros e carnívoros. Se decidirmos permanecer herbívoros, os carnívoros vencerão, e seremos meramente um mercado para eles”, acrescentou o presidente francês, usando essa metáfora para instar os europeus a se tornarem “pelo menos” “onívoros”. “Precisamos ser capazes de nos defender”, disse.
As posições dos europeus, no entanto, estão longe de serem unânimes em relação à defesa regional. Em sinal dos grandes desafios que a Europa enfrenta após a vitória de Trump, outros líderes europeus discordaram de Orbán sobre o apoio à Ucrânia. O líder húngaro disse que a Europa deve reconsiderar a ajuda a Kiev, enquanto outros querem que ela continue.
A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, estava entre muitos que enfatizaram a importância da Europa e dos EUA continuarem a apoiar a Ucrânia contra a invasão da Rússia.
“É do interesse de todos nós que os autocratas deste mundo recebam uma mensagem muito clara de que não existe o poder absoluto, que o Estado de Direito é importante”, disse Von der Leyen, que mais tarde fez um telefonema para Trump.
Já o premiê da Finlândia, Petteri Orpo, disse que estava preocupado com a perspectiva de uma guerra comercial: “Não devemos permitir que aconteça. Vamos agora tentar influenciar Trump para que ele entenda os riscos envolvidos.”
Para os participantes do encontro de Budapeste, o iminente colapso da coalizão de governo tripartite da Alemanha deve complicar os esforços de toda a União Europeia de mitigar efeitos do retorno de Trump à Casa Branca. “Uma coisa é certa, a Europa não é forte sem uma Alemanha forte”, disse a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola.
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Fonte: Valor Econômico

