Em um cenário de alta volatilidade, marcado pelo impasse tarifário entre os Estados Unidos e a China, os aportes de recursos feitos por estrangeiros no segmento secundário da B3Cotação de B3 (ações já listadas) perderam força e voltaram para a casa dos milhões em abril.
Participantes do mercado atribuem o movimento à falta de previsibilidade do ambiente econômico global, no qual investidores de longo prazo são impelidos a diminuir suas posições na renda variável para buscar ativos considerados mais seguros.
Com isso, o saldo positivo da categoria no ano passou de R$ 10,6 bilhões, em 31 de março, para R$ 941 milhões, em 14 de abril, segundo os dados mais recentes publicados pela B3. Até o momento, estrangeiros realizaram saques em todas as dez sessões deste mês.
Para o codiretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Eduardo Carlier, o movimento de rotação das carteiras antes do tarifaço impulsionou a diversificação de portfólios dos EUA para outras geografias, mas essa operação não se consolidou quando houve o aumento de aversão a risco. “Todos os mercados sofreram, inclusive o Brasil”, diz o executivo, que pontua vislumbrar uma possível mudança no mercado a médio prazo, a depender do nível de negociação da Casa Branca com o governo chinês.
“Muito provavelmente, os estrangeiros estão esperando para ver qual é o cenário de impacto das tarifas de Trump e fica essa dúvida de como a demanda por commodities será afetada”, explica o executivo. “O estrangeiro pode tentar pegar alocações com menos efeitos das tarifas, em localidades com preços menores”, acrescenta.
Já o sócio e integrante da equipe de gestão de ações da Vinland, Humberto Meireles, defende que o “termômetro” que irá indicar se os fluxos para o Brasil vão ser mantidos ou não será a continuidade das incertezas e da correção nos EUA.
Ao olhar para o primeiro aspecto, o executivo da Vinland acredita que as idas e vindas da política tarifária de Trump não reduziram as incertezas. Pelo contrário. Segundo ele, as medidas representaram apenas uma “troca de intensidade”. “Tendo a acreditar que essa incerteza criada pelo Trump vai ser transmitida para a economia real e que isso vai impactar as projeções de lucro das empresas americanas. Se isso ocorrer, as companhias de lá vão ter que suspender os ‘guidances’ [projeções futuras].”
Nesse sentido, Meireles não vê um alívio tão cedo da reprecificação das bolsas americanas, o que pode incentivar uma diminuição maior do capital nos EUA e ajudar o mercado acionário local. “Não sei se o Brasil será o cavalo da vez por causa das nossas próprias mazelas, mas o fluxo pode continuar, de maneira mais gradativa.”
O vaivém da política tarifária do presidente americano, Donald Trump, levou a alterações no percentual de casas que esperam que o Ibovespa possa subir para além dos 140 mil pontos até o fim deste ano. Segundo levantamento do Bank of America (BofA), o percentual de gestoras que acredita que o principal índice da bolsa brasileira pode ultrapassar essa marca caiu de 21%, em março, para 18% neste mês. O estudo foi feito com 32 casas com cerca de US$ 79 bilhões em ativos sob gestão.
Segundo a pesquisa, apenas 31% dos gestores latinos responderam que os impactos da guerra tarifária já estão precificados nos ativos brasileiros. Com isso, 22% dos participantes não descartam uma eventual deterioração adicional nos preços por aqui.
Fonte: Valor Econômico

