Por Simon White, Bloomberg
01/09/2022 13h22 Atualizado há 20 horas
A perspectiva de a libra atingir a paridade com o dólar se torna cada vez menos improvável. A ameaça iminente de uma recessão, a dependência aguda do capital estrangeiro, a disparada nos custos da dívida e a crescente probabilidade de a independência do Banco da Inglaterra ser cerceada são más notícias para os ativos do Reino Unido e deixam os títulos e a moeda em uma posição cada vez mais precária.
Criticar o Reino Unido se tornou uma espécie de passatempo nacional, mas mesmo em uma análise imparcial dos dados, é difícil chegar a uma perspectiva otimista. Não há porque medir as palavras: a situação é terrível.
O Reino Unido enfrenta os mesmos desafios que outros países, mas eles são agravados por um conjunto único de problemas próprios. O crescimentodeve se desacelerar muito mais nos próximos meses, com base na mensagem inequívoca do colapso dos principais indicadores, e não vai demorar muito para que a economia esteja flertando com uma recessão.
Os problemas do Reino Unido são exacerbados por um rombo crescente na conta corrente. O déficit de bens piora mais do que a melhora na conta de serviços. Além disso, a capacidade do Reino Unido de cobrar um prêmio sobre o que recebe de ativos no exterior contra o que paga em ativos mantidos no exterior evaporou. Culpe o Brexit ou não, mas os dados não mentem.
O déficit fiscal também é grande, e estrangeiros detém cerca de 25% dos títulos públicos. Além disso, o Reino Unido enfrenta um desafio semelhante a outros países europeus com custos de energia em disparada que provavelmente terão que ser subsidiados de alguma forma pelo Tesouro. O Reino Unido não tem exposição direta ao gás russo, mas continua exposto a efeitos indiretos devido à sua dependência energética de outros países em cerca de 35%.
Juntos, os déficits fiscal e de transações correntes chegam a 11,1% do PIB, exigindo um oceano de capital estrangeiro para manter as engrenagens girando.
A taxa de câmbio entre a libra esterlina e o dólar é a mais antiga do mundo, com 250 anos. A probabilidade implícita de ela atingir a mínima histórica de 1,05 até o final do ano é agora de 1 em 7. Mesmo a chance de quebrar o limiar da paridade, o que pareceria uma fantasia no início deste ano, agora parece uma aposta razoável, com uma probabilidade de 1 em 32. Fomos avisados.
Fonte: Valor Econômico

