O gerente-executivo de economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mário Sérgio Teles, afirmou nesta quinta-feira (14) que o pagamento antecipado de R$ 94 bilhões de precatórios em 2023, autorizado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), vai ter impacto fiscal neste ano, mas os efeitos econômicos ainda serão sentidos em 2024.
“Já consideramos os valores de precatórios a serem pagos neste mês, o impacto fiscal é neste ano, mas o impacto econômico vai se dar nos próximos anos”, disse em entrevista coletiva.
Teles ressaltou que o Banco Central começou um processo de flexibilização monetária. “Com a decisão de ontem vamos fechar o ano com a Selic a 11,75% ao ano, mas mostra uma política ainda muito contracionista, o juro real está a 7,6%, muito acima da taxa neutra, que está em 4,5%. Estamos em um terreno bem contracionista da política monetária”, destacou, enfatizando que a política fiscal está em campo oposto, “bastante expansionista”.
“Temos política monetária segurando o crescimento econômico, mas tivemos outros fatores que levaram a economia a crescer mais, como a política fiscal bastante expansionista”, complementou.
A entidade estima que a concessão de novos créditos deve ter uma queda real de 1,1% puxado por empresas, que além da Selic teve o efeito “das varejistas no início do ano”, em referência à crise das Americanas.
“A composição do aumento de despesas se dá em itens quase que totalmente transferidos para o consumo e com muita velocidade, isso tudo rapidamente se desloca para o consumo”, disse Teles.
Para o executivo, o mercado de trabalho “ainda é muito positivo”. “O setor externo, principalmente exportações da agropecuária, também puxou a atividade para cima em 2023. A gente precisa qualificar melhor a queda das importações. A queda no total das importações se dá basicamente em produtos intermediários, é a indústria que não está crescendo, pelo contrário, deve cair novamente. Outros componentes crescem”, detalhou.
Ele também ponderou que o dado do setor industrial “não é positivo”. “Vemos queda na produção industrial em 2023. Isso está muito ligado à indústria da transformação, não fosse a indústria extrativa o setor estaria em situação pior”, disse.
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— Foto: Daniel Dan/Pexels
O presidente da CNI, Ricardo Alban, destacou pontos positivos da reforma tributária em tramitação no Congresso, mas disse que “preocupa” que a alíquota final fique perto de 27%. Segundo ele, a entidade entende que deveria ficar próximo de 22%.
“IVA [Imposto sobre Valor Agregado] mais caro quem vai pagar é o consumidor, o setor produtivo não paga imposto, recolhe, se não repassar vai quebrar, é um mero arrecadador”, comentou durante a coletiva.
“Entendemos que a carga tributária está excessivamente alta e [aumentar] pode ser um tiro no pé. A melhor forma de aumentar a arrecadação é melhorar o crescimento”, ponderou.
Alban disse que “nunca na história desse país se falou tanto em indústria” e citou o plano de neoindustrialização. “Desde o regime militar, não se falou tanto de indústria, agora estamos falando. Não temos o direito de perder essa oportunidade, juntando isso com a recriação do Mdic e de ter um ministro vice-presidente da república”, disse.
O presidente da CNI disse que neoindustrialização poderá ser feita já com a transição energética. “Temos conjunção de fatores que nos empurra a não perder esse trem, vamos fazer de tudo para entrar pela porta principal desse trem”, comentou.
Sobre o fiscal, ele disse que “dá para ir em busca de déficit zero” em 2024 sem deixar de investir. Para ele, o país terá que repensar reformar ao longo do tempo. “O Brasil vai precisar fazer novas reformas da Previdência, o mundo inteiro, estamos ficando longevos”, disse.
Fonte: Valor Econômico
