Por Justin Lahart, Dow Jones — Nova York
04/08/2023 17h42 Atualizado há 2 dias
O mercado de trabalho americano está esfriando, mas ainda não o suficiente para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), mas está chegando lá. Para muitos economistas, um mercado de trabalho “Goldilocks” — nem aquecido demais para aumentar a inflação, nem fraco demais para levar o país à uma recessão — está despontando no horizonte nos EUA.
O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou nesta sexta-feira que o país criou 187 mil postos de trabalho em julho em relação ao mês anterior – menos do que os 200 mil que os economistas consultados pelo “The Wall Street Journal” esperavam. O relatório também revisou para baixo a criação de emprego nos dois meses anteriores.
Mesmo assim, a taxa de desemprego, baseada em uma pesquisa separada, caiu para 3,5% em julho, ante 3,6% em junho. Isso ressalta um fato simples: o ritmo de criação de empregos provavelmente ainda é forte demais para evitar que a taxa de desemprego caia nos próximos meses. Se a taxa de desemprego cair, isso vai provocar a volta da preocupação sobre a inflação salarial, o que pode levar os membros do Fed a aumentar ainda mais as taxas de juros dos EUA.
O ritmo certo do crescimento do emprego, no entanto, é difícil de descobrir.
Se você seguir as projeções divulgadas pelo Departamento do Trabalho no 3º trimestre do ano passado, parece que o crescimento do mercado de trabalho precisa desacelerar acentuadamente. Segundo esses dados, a força de trabalho dos EUA ganhou cerca de 1,36 milhão de trabalhadores neste ano e no próximo. Para fazer isso e manter uma taxa de desemprego de 3,5%, a economia deve ganhar uma média de apenas 55 mil novos funcionários por mês.
A boa notícia é que essas projeções parecem ter sido muito cautelosas em dois aspectos: o número de pessoas imigrando aos EUA e a parcela da população que está na força de trabalho.
A imigração para os EUA se recuperou. Isso ocorre em parte porque a política de imigração do presidente Biden é menos restritiva do que a do ex-presidente Donald Trump, mas também porque a pandemia causou uma queda na imigração. Desde então, houve uma recuperação. Os números do Census Bureau mostram que, no ano fiscal encerrado no dia 1º de julho de 2022, a população americana cresceu em cerca de 1,3 milhão de pessoas em relação ao período anterior, após crescer apenas cerca de 520 mil no ano encerrado no dia 1º de julho de 2021. Isso ocorreu como resultado de um aumento na imigração líquida, que adicionou cerca de 1 milhão de pessoas à população, segundo análise da Brookings Institution, após adicionar apenas cerca de 376 mil no ano anterior.
De fato, o Departamento do Trabalho em fevereiro ajustou suas estimativas do crescimento populacional para cima. Isso também resultou em um acréscimo de 871 mil pessoas à sua estimativa de força de trabalho – ou seja, o número de pessoas que estão empregadas ou procurando emprego ativamente. O departamento também aumentou a estimativa populacional quando fez os ajustes sobre o tema no ano anterior e, se a imigração continuar no ritmo atual, novos ajustes terão que ser feitos.
Uma parcela maior da população em idade ativa do que o Departamento do Trabalho projetou está trabalhando. Isso também é uma vantagem para os EUA. O órgão projetou uma taxa de participação da força de trabalho de 61,5% para este ano, mas o relatório de sexta-feira mostrou que a taxa de participação ficou em 62,6% no mês passado.
A taxa de participação continua abaixo dos 63,3% pré-pandemia e bem abaixo do pico de 67,3% atingido no início de 2000. A questão aqui é que, em um país em envelhecimento, os aposentados representam uma parcela cada vez maior da população.
O resultado é que, embora o crescimento do emprego ainda precise desacelerar mais para convencer o Fed a diminuir os aumentos dos juros, o órgão pode não precisar desacelerar muito mais. A economia provavelmente pode lidar com mais empregos do que o previsto.
Fonte: Valor Econômico

