Por Alex Ribeiro, Valor — São Paulo
19/06/2023 10h42 Atualizado há 22 horas
As projeções de inflação do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central provavelmente vão dizer se será possível começar o ciclo de afrouxamento monetário em agosto, conforme passou a ser previsto pelo mercado financeiro, segundo o boletim Focus divulgado nesta manhã.
Há algumas semanas os analistas econômicos começaram a colocar as fichas num ciclo de distensão monetária mais cedo, diante da inflação corrente mais baixa do que o esperado, da queda da cotação do dólar, do anúncio do novo marco fiscal e dos sinais de que o governo Lula não pretende mudar a meta de inflação de 3%.
No Focus de hoje, a projeção para a taxa Selic em agosto caiu de 13,75% ao ano para 13,5% ao ano. Os juros básicos previstos para o fim do ano recuaram para 12,25% ao ano, o que significa uma queda de 1,5 ponto percentual até o final do ano.
O boletim Focus é o insumo final que faltava para alimentar as projeções de inflação do próprio Copom, que se reúne amanhã e depois para definir a taxa Selic. A aposta dominante do mercado é que o colegiado mantenha a taxa inalterada, mas sinalize para agosto o início do processo de distensão monetária.
Um dos mais importantes instrumentos de comunicação para o futuro da Selic são as projeções de inflação do Copom. Uma das principais a serem apresentadas, chamada de cenário de referência, leva e consideração justamente a queda da Selic prevista pelo mercado. Se, mesmo com a queda da Selic, a inflação projetada cair abaixo da meta de inflação, em tese haveria espaço para reduzir a Selic.
Até a reunião de maio, isso não era possível. Se o Copom começasse a baixar os juros em setembro, como então esperava o mercado, a inflação ficaria em 3,6%, acima da meta. O alvo do Copom era, na ocasião, levar a inflação para o objetivo, definido em 3%, no fim de 2024.
Desta vez, os especialistas vão ficar de olho não apenas na projeção de inflação para o ano-calendário de 2024, mas também na projeção para o período de 12 meses encerrados em março de 2025. Isso porque, a partir de agosto, o horizonte relevante da política monetária terá se deslocado um trimestre adiante.
O Banco Central vai divulgar as suas projeções de inflação em duas etapas. Na primeira, em comunicado na noite de quarta-feira, sairá a projeção de inflação para o ano-calendário de 2024. Se essa projeção estiver abaixo da meta – o que parece altamente improvável – em tese o corte de juros seria possível já na reunião desta semana.
Na quinta-feira da semana que vem, na divulgação do relatório de inflação de junho, vai sair a projeção de inflação referente ao primeiro trimestre de 2025. Se a projeção de inflação nesse período estiver abaixo da meta, em tese seria possível cortar os juros a partir de agosto.
E se a projeção estiver acima da meta? Isso não impediria, necessariamente, um corte de juros. O que vale, no fim das contas, é a projeção de inflação que o Copom vai encontrar na reunião de agosto. Até lá, o cenário poderá continuar melhorando, abrindo espaço para cortar os juros.
O Copom pode dar algumas esperanças ao mercado se a sua outra projeção, que assume juros estáveis em 13,75% ao ano por período indefinido, ficar abaixo da meta. Isso significaria uma possibilidade de queda de juros, ainda que sem cravar que isso seja factÍvel em agosto.
Também deve-se lembrar que a projeção de inflação é um dos instrumentos de comunicação de política monetária, mas não o único. Em vários momentos no passado o colegiado complementou a comunicação feita com as projeções de inflação com outros instrumentos, como o balanço de riscos para a inflação ou apenas a comunicação verbal. Mas, no geral, os cortes de juros costumam ter mais credibilidade quando as projeções oficiais do Copom mostram que ela é possível sem abandonar as metas.
Há vários fatores que, em tese, podem ajudar a abrir o cenário para um corte de juros em agosto. Um deles é a contÍnua melhora na inflação corrente, que o mercado financeiro tem prestado muita atenção. A queda das expectativas de inflação também ajuda muito, sobretudo as de médio e longo prazos. Nesse quesito, a manutenção da meta em 3% em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) em 29 de junho poderá ajudar muito.
Nesta semana, o boletim Focus registra uma queda da projeção mediana de inflação para 2025 de 3,9% para 3,8%, pela segunda semana seguida. Também caiu a projeção para 2026, de 3,88% para 3,8%. A média das expectativas de inflação para 2026, um indicador de onde a mediana poderá caminhar, já se encontra em 3,77%.
O que pode atrapalhar as apostas do mercado de corte de juro em agosto? O Copom também está de olho em outros fatores para decidir o momento do corte de juros. Em especial, os núcleos de inflação e a inflação de serviços, que seguem muito altos e estão caindo lentamente. Membros do colegiado, na semana passada, pregaram “paciência” até se garantir que esse recuo da inflação vai mesmo se confirmar.
Fonte: Valor Econômico

