A montanha-russa desta semana no mercado de ações parece ser impulsionada por uma reversão nas negociações especulativas, e não pelo estouro de uma bolha ou por um presságio de desastre econômico – no caso, uma possível recessão nos Estados Unidos. Mas isso não significa que estamos seguros.
O índice Nikkei 225 do Japão subiu 10,2% na terça-feira, desfazendo mais da metade dos danos causados na segunda-feira, quando registrou sua pior queda em um dia desde o “flash” crash de 1987. As ações também subiram nas negociações europeias, embora de forma muito menos dramática.
A recuperação rápida reflete o padrão observado na segunda-feira no Índice de Volatilidade Cboe, ou Vix – uma medida da volatilidade esperada do S&P 500, conhecida como o “medidor do medo” de Wall Street. No início da manhã de ontem, o Vix atingiu 65,73, a terceira marca mais alta desde que os registros começaram em 1992, após a crise financeira global de 2008 e a crise de covid-19 em 2020. No fechamento do mercado, porém, o Vix havia caído para 38,57, mais próximo de um dia normal ruim.
A diferença entre a máxima e o fechamento intradiário do índice foi a maior de todos os tempos. O pico do Vix também foi recorde quando comparado com o nível máximo de volatilidade real registrado pelo S&P 500 durante o dia. A derrocada tem sido muito mais virulenta entre os contratos de opções que constituem a base do Vix do que entre as ações reais do S&P 500 que eles acompanham.
Essa dissociação sugere que as opções estão liderando o resto do mercado: o rabo está abanando o cachorro.
Em períodos de calma, os investidores são recompensados por apostarem contra a volatilidade através de produtos repletos de opções. Em 2017, eram os veículos rastreadores de varejo que apresentavam explicitamente “volatilidade curta”. No período que antecedeu esta atual derrocada dos mercados, uma proliferação de produtos estruturados provavelmente contribuiu para a calma do mercado. Em cada caso, os bancos ficam do outro lado da negociação e depois cobrem o risco de uma forma que suprime a volatilidade.
Eventualmente, as más notícias assustam os investidores e a volatilidade dispara. Quando os traders correm para cobrir as perdas, vendem os ativos mais sobrecomprados, o que, por sua vez, gera volatilidade. As ordens de venda automáticas, bem como as estratégias de dinâmica e de “paridade de risco”, alimentam ainda mais o ciclo de “feedback”.
As opções não estão por trás de toda a supressão da volatilidade. No caso do iene japonês, a suposição de que o Banco do Japão manteria os custos dos empréstimos permanentemente baixos alimentou um gigantesco “carry trade” – estratégia que investidores usam para ganhar com o diferencial de juros entre diferentes economias.
Durante anos, os investidores contraíram empréstimos a taxas japonesas baixíssimas para comprar ativos de maior rendimento, incluindo ações de tecnologia dos EUA. Quando as autoridades em Tóquio decidiram, na semana passada, apertar a política monetária, seguiu-se uma chicotada global.
Um “crash” provocado por tendências de mercado complexas é o tipo mais benigno porque não reflete um problema econômico mais profundo. A crise de 1987 acabou por ser um pontinho, e mesmo a crise russa de 1998, que derrubou a Long-Term Capital Management, não manteve as ações em baixa por muito tempo.
O S&P 500 caiu 8,5% em relação ao seu máximo histórico em apenas 14 dias. Uma análise do Bespoke Investment Group mostra que essas vendas rápidas são raras, mas tendem a ser seguidas por retornos fortemente positivos nas semanas e meses subsequentes. A liquidação da covid-19 em 2020 foi uma exceção, embora com o tempo o mercado tenha registrado uma recuperação poderosa.
Ainda assim, o caminho à frente pode ser acidentado. Os traders de volatilidade muitas vezes salientam que leva tempo para eliminar negociações ruins do sistema, e o registro histórico confirma isso. Em média, um pico de volatilidade leva a quatro ou cinco semanas de negociações irregulares de ações e a uma faixa de negociação mais alta para o Vix. A derrota do “Vol-pocalipse” em fevereiro de 2018, quando os rastreadores de varejo de volatilidade curta se desfizeram, foi seguida por uma recuperação de curta duração e depois por uma segunda correção em meados de março.
Os números da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities sugerem que ainda pode haver apostas contra o Vix esperando para serem desfeitas. O posicionamento líquido dos fundos de hedge face ao iene é ainda mais esticado, ascendendo a cerca de US$ 6 bilhões no final da semana passada, embora esta ainda seja uma grande queda em relação aos US$ 14 bihões registrados em julho. Para cobrir as perdas decorrentes do “carry trade” japonês, os investidores tendem a comprar o iene, que subiu 11% em relação ao dólar desde o final de junho.
Para a maioria dos investidores, resistir ao “flash crash” inicial será relativamente fácil, especialmente com os mercados asiáticos e europeus já parecendo regressar ao normal nesta terça-feira. Manter a cabeça fria caso ocorra uma segunda onda pode ser mais difícil.
Fonte: Valor Econômico

