Por Alex Ribeiro, Valor — São Paulo
03/01/2024 11h14 Atualizado há 12 horas
A bolsa ganhou um impulso dos investidores estrangeiros nos dois últimos meses de 2023, mas as estatísticas oficiais que cobrem até o mês de novembro mostram que o fluxo de dólares teve como o seu principal destino os papéis de renda fixa, atraídos pelos altos juros no país.
Dados do balanço de pagamentos divulgados nesta manhã pelo Banco Central mostram um ingresso líquido de US$ 1,738 bilhão em ações negociadas dentro do Brasil em novembro. No ano, a entrada de dólares é um pouco menor, em US$ 1,593 bilhão, nos dados até novembro.
Já as aplicações dos estrangeiros em renda fixa dentro do país somaram US$ 10,647 bilhões nos onze primeiros meses do ano passado, dos quais US$ 833 milhões em novembro. No ano anterior, foi registrada saída de 6,5 bilhões em período correspondente.
O que torna a renda fixa – sobretudo títulos públicos – atrativa são os altos juros vigentes no país. O pico da taxa Selic, em 13,75% ao ano, ficou para trás, com o início do ciclo de distensão monetária a partir de agosto. Mas segue bem alta para os padrões internacionais, em 11,75% ao ano.
O ingresso de capitais estrangeiros em renda fixa se manteve apesar da redução da diferença entre os juros internos e externos. Com a queda da Selic e alta de juros em países desenvolvidos, fica menos atrativo tomar dinheiro emprestado no exterior para investir dentro do Brasil. Mas, apesar da queda da Selic, a curva de juros futuras se manteve alta, o que significa uma atratividade adicional nas operações prefixadas.
No fim das contas, o fluxo líquido de investimentos estrangeiros em renda fixa de novembro, em US$ 833 milhões, não ficou tão mais baixo na comparação com a média dos dez meses anteriores, de US$ 967 bilhões.
A entrada de investimentos estrangeiros em bolsa também ajudou a irrigar o mercado de dólar em novembro. Mas note que o fluxo líquido de divisas, em US$ 1,738 bilhão, é menor do que o aumento da posição dos estrangeiros na bolsa em novembro, de R$ 21,165 bilhões (US$ 4,3 bilhões, considerando a cotação média do dólar no mês), segundo dados da B3.
Como se explica a diferença? Os dados da B3 incluem as compras contratadas por investidores estrangeiros na bolsa, menos a vendas. Mas não dizem nada sobre a origem do dinheiro. Uma parte pode ter sido apenas realocada de outros tipos de aplicações.
Os dados da B3 são os melhores para explicar como os estrangeiros ajudaram a dar um impulso no Ibovespa, de 12,5%, em novembro. Em dezembro, até o dia 28, a B3 registrava ingresso de R$ 17,651 bilhões (U$ 3,6 bilhões, considerando a cotação média do dólar no mês).
Já os dados do Banco Central, que incluem os contratos de câmbio liquidados, são o termômetro dos dólares de investidores estrangeiros que efetivamente entraram no Brasil em novembro. São importantes na oferta e demanda de moeda forte no mercado de câmbio e, portanto, um dos componentes que determinam a cotação do dólar.
Em novembro, o dólar recuou 2,5%, para R$ 4,93. Mas a principal força para a sua queda foi a melhora das expectativas sobre o ingresso futuro de dólares, diante da perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) possa adotar uma política monetária menos austera.
Outras contas do balanço de pagamentos, entretanto, tiveram mais importância na formação da taxa de câmbio que o fluxo de divisas para a bolsa e em renda fixa em novembro. A balança comercial foi superavitária em US$ 6,673 bilhões, e os investimentos diretos no país somaram US$ 7,780 bilhões.
É possível que, devido aos critérios estatísticos, os dados do BC subestimem o volume de recursos estrangeiros que efetivamente entraram no país. O balanço de pagamentos considera que aumento de participação acima de 5% numa empresa seja considerado investimento direto, mesmo que a operação tenha sido feita em bolsa.
A B3 considera as operações contratadas, enquanto que o BC coloca na estatística as operações de câmbio liquidadas, que ocorrem dois dias depois.
Chama a atenção também nos dados do Banco Central o alto giro nos fluxos para a bolsa. Em novembro, os ingressos de dólares chegaram a US$ 12,489 bilhões, mas saíram do país US$ 10,750 bilhões no mesmo mês.
Fonte: Valor Econômico
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