Por Estevão Taiar, Valor — Brasília
22/12/2022 18h18 Atualizado há 16 horas
O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), reforçou nesta quinta-feira a estratégia de escolher interlocutores ou aliados próximos para compor o secretariado da pasta. Mais cedo, ele anunciou quatro novos secretários: Rogério Ceron (Tesouro Nacional), Robinson Barreirinhas (Receita Federal), Guilherme Mello (Política Econômica) e Marcos Barbosa Pinto (Reformas).
Interlocutores de Haddad vinham afirmando desde o fim da semana passada que a tendência seria o futuro ministro escolher aliados próximos para montar a sua equipe, em detrimento de outros nomes mais conhecidos, do mercado ou que ajudassem na composição política do governo.
Todos os secretários anunciados hoje já trabalharam diretamente com o futuro ministro em diferentes momentos da carreira dele. Ceron, que será responsável pelo Tesouro Nacional, foi secretário de Finanças da capital paulista durante parte do período em que Haddad ocupou a prefeitura.
O futuro ministro afirmou que Ceron foi “um dos responsáveis” pelo fato de a capital paulista ter se tornado “credora líquida” e conquistado grau de investimento no período em que ele foi prefeito.
Já Barreirinhas, que assumirá a Receita, também tem diversas passagens por cargos públicos da capital paulista, mais uma vez incluindo o período em que Haddad foi prefeito, quando atuou como procurador-geral e secretário de Negócios Jurídicos.
Desde que foi indicado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para ser o titular da Fazenda, Haddad vem afirmando que “advocacia pública de qualidade é parte da solução do problema fiscal do país”.
Uma das ideias do futuro ministro é atuar em parceria com Advocacia-Geral da União e Ministério da Justiça para reforçar pelo lado da arrecadação o ajuste fiscal necessário. Nesse caso, a própria Receita e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) teriam papel de destaque.
Por sua vez, Mello, que assumirá a Secretaria de Política Econômica, fez parte do grupo de economia da equipe de transição. Mas também foi assessor econômico de Haddad ainda na campanha de 2018, quando o futuro ministro concorreu à Presidência da República. Nesta quinta-feira, o futuro ministro atribuiu a ele e aos demais integrantes do grupo de economia o “êxito na negociação” da Proposta da Emenda de Constituição (PEC) da Transição, já que os argumentos fornecidos pela equipe técnica “eram bons”.
Já Pinto, no início do governo do presidente Jair Bolsonaro, foi protagonista da demissão do ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Joaquim Levy. Em 2019, ele ocupava a diretoria de mercado de capitais da instituição de fomento. Mas também acumulava passagens por governo petistas, o que irritou Bolsonaro, que criticou publicamente o futuro secretário de Haddad menos de seis meses após assumir a Presidência da República. No dia seguinte às críticas feitas pelo presidente da República, Levy pediu demissão.
Na ocasião, Haddad chegou a comemorar o episódio em sua conta no Twitter.
A escolha do secretário de Reformas Econômicas foi inclusive bem recebida por diversos integrantes do mercado, de acordo com relatos ouvidos pelo Valor. Mesmo assim, não foi o suficiente para diminuir a avaliação negativa que esse grupo faz a respeito da montagem da equipe econômica até aqui, segundo os relatos ouvidos.
Os quatro futuros integrantes do Ministério da Fazenda se juntarão aos outros secretários já escolhidos: Gabriel Galípolo (secretaria-executiva), Bernard Appy (especial para a reforma tributária) e Anelize De Almeida (PGFN). Appy já tinha atuado como secretário do Ministério da Fazenda durante os dois primeiros mandatos de Lula, enquanto Galípolo se aproximou há pouco mais de um ano tanto do futuro ministro quanto do presidente eleito.
Com as nomeações realizadas nesta quinta-feira, o “primeiro escalão [da pasta] está praticamente montado”, faltando apenas definir na semana que vem o secretário de Assuntos Internacionais, segundo Haddad.
O futuro ministro também afirmou que debaterá com Lula nos próximos dias as nomeações para Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).
De acordo com ele, os nomes para BB e Caixa “estão mais adiantados”. Ou seja: Haddad vem atuando diretamente na composição da área econômica mais ampla do governo eleito, não se limitando aos subordinados diretos da Fazenda.
Fonte: Valor Econômico

