Economistas do mercado financeiro estão apresentando estudos ao Banco Central que questionam o receio do Comitê de Política Monetária (Copom) com uma possível aceleração da inflação causada pelos reajustes de salários.
Os membros do próprio Copom têm circulado entre si textos acadêmicos sobre o assunto. Um deles, produzido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) de São Francisco, faz uma revisão da literatura para concluir que os reajustes salariais ajudam pouco a prever o comportamento futuro da inflação.
Quem revelou esse debate, dentro e fora do Copom, foi o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, em um evento virtual na última sexta-feira organizado pelo Bradesco Asset Management.
Mas o diretor do BC indicou que essa discussão, apesar de ser muito importante para a política monetária, não tende a mudar a estratégia para a baixa de juros já comunicada pelo Copom. “O mercado pode fazer apostas, o Copom, não”, disse Galipolo.
Ou seja: os especialistas do mercado financeiro são livres para, a partir de seus próprios cálculos, antecipar cenários benignos ou não para a inflação e para o juro – que, caso se confirmem, podem gerar lucros. O Copom deve seguir tratando com muita cautela uma relação cheia de incerteza.
Há cerca de meio ano o Copom vem colocando o foco em uma possível relação entre o grau de aquecimento do mercado de trabalho e a inflação. A partir do segundo semestre de 2023, a inflação de serviços caiu mais do que o BC e os analistas privados esperavam, apesar de o desemprego ter ficado menor do que o esperado.
Mais recentemente, os reajustes de preços de serviços mais ligados à atividade econômica surpreenderam para cima. Os economistas querem desvendar a relação entre o mercado de trabalho e a inflação para saber se, daqui por diante, haverá pressão ou alívio nesses preços, cujo controle é fundamental para o Copom cumprir a meta de inflação.
O diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, vem colocando o foco, em especial, nos reajustes salariais. Segundo ele, nas condições atuais, é difícil extrair muitas informações sobre eventuais pressões inflacionárias a partir de dados quantitativos do mercado de trabalho, como a taxa de desemprego, já que a pandemia pode ter provocado mudanças estruturais na oferta de mão-de-obra.
Os trabalhadores, por exemplo, podem estar aceitando reajustes de salários menores em troca de mais flexibilidade na jornada de trabalho, como a possibilidade de trabalhar no regime de home office. Os reajustes salariais seriam, portanto, a melhor forma disponível para identificar possíveis pressões na inflação originadas no mercado de trabalho.
Fonte: Valor Econômico

