O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, livrou-se do “forward guidance” que indicava uma queda de juro de 0,5 ponto percentual para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em maio, e deixou em aberto quatro possibilidades.
Em um evento da XP Investimentos em Washington, que foi aberto ao público na última hora, ele disse que as incertezas internacionais e fiscais aumentaram muito para permitir que o Copom siga com a antiga promessa.
Mas, de outro lado, argumentou que ainda não está claro o que, das turbulências recentes, vai ou não se tornar mais perene, afetando o trabalho do Banco Central de baixar a inflação para a meta e, dessa forma, a trajetória da Selic.
A três semanas da próxima reunião do Copom, Campos Neto listou quatro cenários teoricamente possíveis, que poderiam levar a desfechos diferentes para a decisão que será tomada sobre a taxa de juros.
Primeira hipótese: “Poderíamos ter uma redução na incerteza, o que significa que seguiríamos o caminho usual”. Ele não foi explicito sobre o que seria o caminho usual, mas aparentemente seria uma redução dos juros em 0,5 ponto percentual, como estava sinalizado anteriormente, dos atuais 10,75% ao ano para 10,25% ao ano.
Segunda hipótese: “Poderíamos ter uma situação em que a incerteza continua bem alta, mas não muda significativamente. Isso significaria uma redução no ritmo.” Ou seja, o BC cortaria 0,25 ponto, para 10,5%.
Terceira hipótese: “Poderíamos ter uma situação em que a incerteza começa a afetar mais fortemente importantes variáveis, e a gente teria que mudar o balanço de riscos.” Campos Neto não foi explicito sobre o que essa hipótese significaria para os juros, mas a lógica da gradação que ele empregou parece indicar uma manutenção de juros.
Quarta hipótese: “Poderíamos ter um cenário em que a incerteza se agrava, criando estresse global, e nesse caso vamos mudar o nosso cenário global”. Nessa hipótese, aparentemente, Campos Neto está se referindo à possibilidade de subir a taxa básica de juros.
Com essa gradação, o presidente do Banco Central deu uma espécie de roteiro para o mercado financeiro acompanhar o desenvolvimento da crise recente – internacional e fiscal – para antecipar qual será a reação do Copom a cada uma das situações.
E por que o presidente do BC não deu uma mensagem mais dura, direta? Para ele, com o elevado grau de incerteza atual, fica difícil antecipar a situação que o Copom vai encontrar daqui a três semanas.
“Você não quer reagir muito a dados de curto prazo, mas ao mesmo tempo você não quer ignorar muito uma mudança estrutural ao ponto de perder a sua credibilidade”, afirmou o presidente do BC.
Para saber como o Copom vai fazer é importante prestar atenção ao que Campos Neto disse sobre o que é surpresa e o que não é nos eventos recentes. Também é bom reexaminar a chamada função de reação do BC, ou seja, como ele usa as novas informações que surgirem nas próximas três semanas para tomar suas decisões.
Ele disse que a piora no ambiente externo já era mais ou menos esperada por ele. Isso ajuda a entender porque, em evento na semana passada, depois da divulgação da inflação americana, ele disse que o cenário não havia mudado substancialmente.
O que não estava na conta do BC: a piora do lado fiscal. Ainda assim, em pelo menos duas vezes ele expressou dúvidas de que, de fato, essa piora vai se traduzir num aumento permanente do prêmio de risco. “Quando você [muda a meta], o prêmio se move mais longe”, disse. “Eu espero que isso não ocorra.”
Campos Neto expressou preocupação, em especial, com a relação entre a credibilidade fiscal e a credibilidade monetária. O principal indicador de que, de fato, o BC perdeu credibilidade serão as expectativas de inflação, sobretudo as de prazo mais longo.
Na função de reação do BC, o recado principal é que não há relação mecânica entre a política fiscal e o ambiente externo e a política monetária. Será preciso ver como esses acontecimentos recentes afetam o cenário central do Copom para a inflação e o balanço de riscos. É isso que vai determinar em qual das quatro hipóteses acima vai ser adotada pelo Copom na sua próxima reunião.
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Fonte: Valor Econômico

