Por Alex Ribeiro, Valor — São Paulo
25/05/2023 17h14 Atualizado há 16 horas
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, adotou um tom levemente mais otimista sobre a inflação em entrevista à “GloboNews”, embora siga sem indicar um horizonte para baixar a taxa básica de juros.
“De uma forma geral, a gente entende que o cenário está melhor”, disse o presidente do Banco Central. Sobre baixar a Selic, hoje em 13,75% ao ano, disse que não tem como adiantar “quando vai acontecer, se vai acontecer”.
Houve uma mudança importante no discurso em relação ao que havia dito três dias antes, na segunda-feira, em um evento promovido pelo jornal “Folha de S.Paulo”.
Nas duas ocasiões, o presidente do Banco Central explicou em que, exatamente, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central está de olho para decidir por um eventual afrouxamento monetário.
Basicamente, o Banco Central está olhando os dados mais recentes de inflação (em especial, preços de serviços e núcleos), a evolução da capacidade ociosa da economia, as projeções de inflação do Copom, as expectativas de inflação e o balanço de riscos, dentro do qual se destaca a execução da política fiscal.
Na segunda-feira, Campos Neto entrou mais no detalhe sobre como estava vendo a evolução de cada um desses itens e, no geral, destacou o lado negativo, como os núcleos muito altos e inflação de serviços resistente. Na entrevista de hoje, Campos Neto não entrou em detalhes, mas deu uma mensagem geral positiva dizendo que “o cenário está melhor”.
O que pode ter levado o presidente do BC a mudar o tom? De segunda para cá, houve dois fatos novos importantes. Um deles foi a divulgação do IPCA-15 de maio, nesta manhã. O índice cheio ficou abaixo do previsto, e os núcleos tiveram uma ligeira melhora, assim como os serviços que são mais influenciados pela atividade econômica. Nada muito significativo, mas houve uma melhora em relação aos resultados anteriores.
Outra novidade foi aprovação na Câmara dos Deputados do arcabouço fiscal. Na segunda, Campos Neto parecia mais cético ao tratar do tema, destacando que havia preocupação sobre o que o governo faria na parte de contenção e gastos.
Hoje, na GloboNews, Campos Neto disse que a tramitação do arcabouço fiscal está tendo efeito nos preços dos ativos. Esse é um reconhecimento importante. O Copom tem dito que não há uma relação mecânica entre arcabouço e corte de juros, e que tudo dependeria de como a nova âncora poderia melhorar preços de ativos e as expectativas de inflação.
Na sua entrevista de hoje, Campos Neto reconheceu o efeito do arcabouço nos preços de ativos, mas ainda não nas expectativas de inflação, que estão desancoradas das metas. “As taxas longas de juros estão caindo. Acho que, de fato, isso ajuda no ambiente”, disse o presidente do Banco Central. “A gente vai ter que esperar para ver como isso vai de fato se transformar numa melhora de expectativas.”
Campos Neto também reconheceu que o Congresso “está passando uma mensagem muito correta no sentido de ajudar o trabalho do Banco Central”. E voltou a adotar um discurso mais generoso com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizendo que a história de diversos governos mostra como é difícil fazer um ajuste fiscal pelo lado dos gastos.
Houve uma mudança de tom, que se tornou levemente mais otimista, mas Campos Neto tomou todo o cuidado de não anunciar um horizonte para um eventual corte de juros. Em vários momentos, ele citou que essa é uma decisão colegiada.
De fato, é. E há uma ala mais conservadora no Copom que anda preocupada com a inflação. Na reunião de maio, essa ala, formada por pelo menos três membros do comitê, chegou a argumentar que a taxa neutra de juro real poderia ser maior do que os 4% ao ano estimados pelo Banco Central, já que a inflação e a atividade não estavam respondendo da forma esperada ao aperto monetário.
Para uma eventual sinalização sobre queda dos juros, portanto, vai ser preciso acompanhar não apenas a evolução dos dados e da visão de Campos Neto, que de fato pareceu hoje levemente mais otimista, como a dos demais membros do Copom.
Fonte: Valor Econômico

