14 Jun 2023 BETH MOREIRA IURI GONÇALVES TALITA NASCIMENTO
Ao divulgar balanço, em 11 de janeiro, com rombo de R$ 20 bilhões, a Americanas falou em “inconsistências contábeis”. Ontem, cinco meses depois e em recuperação judicial, a empresa enviou documento à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em que admite ter havido fraude nas suas contas e culpou a antiga diretoria. O rombo contábil agora seria superior a R$ 42 bilhões. “Os documentos analisados indicam que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas”, afirmou no fato relevante. A Americanas informou ainda que as conclusões do relatório foram amparadas em investigação de comitê independente nomeado após a descoberta do rombo. As ações da empresa na Bolsa fecharam o dia ontem com alta de 6,03%.
Em documento à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Americanas admitiu ontem que houve fraude no rombo inicialmente de R$ 20 bilhões divulgado no começo do ano. A companhia, que hoje está em recuperação judicial e tenta fechar um acordo com credores para renegociar uma dívida de R$ 40 bilhões, culpou a diretoria antiga pelo desfalque. Quando tornou público o rombo, em 11 de janeiro deste ano, a empresa falou em “inconsistências contábeis”. O rombo contábil agora seria superior a R$ 42 bilhões.
Após a divulgação do documento, as ações da empresa fecharam o dia em forte valorização na B3, a Bolsa de Valores brasileira. Os papéis da varejista finalizaram o pregão em alta de 6,03%, cotados a R$ 1,23, após oscilarem entre a máxima de R$ 1,38 e a mínima de R$ 1,17. Pela manhã, no início da sessão, o valor das ações chegou a saltar mais de 16%. A expectativa no mercado é de que o relatório possa, de alguma forma, acelerar um acordo para a dívida da varejista.
“Os documentos analisados indicam que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas”, afirmou a empresa, em fato relevante enviado à CVM. A varejista informou ainda que as conclusões do relatório foram amparadas na investigação de comitê independente nomeado pelo conselho de administração depois da descoberta da diferença contábil.
Os documentos que deram origem ao relatório, disse a Americanas, demonstram ainda que a diretoria anterior da companhia teria se movimentado para ocultar do conselho de administração e do mercado a real situação da varejista.
A Americanas disse que o relatório da comissão independente “indica a participação na fraude do ex-CEO Miguel Gutierrez, dos ex-diretores Anna Christina Ramos Saicali, José Timótheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles e dos ex-executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes”. Gutierrez desligouse da companhia em 31 de dezembro de 2022. Os outros seis haviam sido afastados em fevereiro deste ano, após a descoberta do rombo.
O conselho de administração da empresa orientou a Americanas a apresentar o relatório a autoridades e a avaliar as medidas para buscar o ressarcimento dos danos. Os citados no documento foram procurados, mas não falaram sobre o relatório.
ACIONISTAS. Além do tamanho do rombo, o caso da Americanas também chamou a atenção do mercado em razão de seus principais acionistas: Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, sócios do fundo 3G Capital.
Os empresários, que estão entre os mais ricos do País, com um patrimônio conjunto estimado em US$ 37 bilhões (por volta de R$ 180 bilhões), estão por trás de multinacionais como AB InBev, Kraft Heinz e Burger King. Eles sempre negaram ter conhecimento do rombo.
No documento de ontem, a empresa disse que “acionistas de referência, presentes no quadro acionário há mais de 40 anos”, pretendem “continuar suportando a companhia”.
Ao decidir juntar os negócios físico e digital, a Americanas teve de fazer, em 2021, um rearranjo societário que tirou do controle o famoso trio. Com cerca de 29% dos papéis da empresa, eles se tornaram os chamados acionistas de referência.
CVM. Até agora, somente Sérgio Rial, que identificou o rombo e o tornou público após ficar nove dias como CEO da Americanas, é o único formalmente investigado pela CVM.
Conforme uma pessoa com conhecimento do processo, o executivo teria comunicado o desfalque de maneira imprecisa e realizado uma teleconferência de acesso restrito para explicar a situação da companhia. Em declarações à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, em março, Rial afirmou que foi avisado do rombo contábil poucos dias antes de divulgá-lo. •
Fonte: O Estado de S. Paulo