“Parece que, no início do ano, a economia está mais aquecida do que se imaginava”, afirmou Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais (NCN) do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV/Ibre).
O técnico detalhou ainda que, até o primeiro trimestre, o desempenho da economia no Monitor do PIB não foi puxado por uma ou outra categoria comparativa, e sim favorável, em diferentes comparações.
Em relação ao mesmo trimestre de 2024, o aumento foi de 3,1%, o mais elevado desde 2024 (3,6%). E, na comparação com fevereiro, a atividade econômica em março subiu 1,3%, a taxa mais intensa desde junho de 2024 (1,8%). Esses números levaram a uma taxa acumulada em 12 meses, até março, de 3,5%, o aumento mais intenso, nessa comparação, desde junho de 2023 (3,7%).
Isso fez com que Considera não descartasse que o PIB, em 2025, possa crescer a uma taxa mais próxima a 3%, e não de 2% como se imaginava no começo desse ano.
“O que temos aqui é que todas as principais categorias [do PIB] mostraram alta, e sobem bem na taxa anualizada, em 12 meses”, notou.
No Monitor do PIB, a agropecuária subiu 12,2% no primeiro trimestre ante quarto trimestre de 2024, melhor desempenho desde março de 2023 (13,8%). Nessa mesma comparação, a FGV apurou aumentos de 1,3% em serviços, que representa quase 70% do PIB; de 1,1% no Consumo das Famílias; e de 1,4% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Com isso, esses grandes grupos acumulam altas de 1,8%, 3,4%, 4,2% e 8,2%, respectivamente, em 12 meses até março.
“A FBCF ‘explodiu’ [aumentou muito] no primeiro trimestre.” O técnico informou que isso se deve a uma boa performance em máquinas e equipamentos nos primeiros três meses do ano. “Em 12 meses, a atividade de máquinas equipamentos acumula alta de 24,3% [até março]”, disse.
No entendimento do especialista, o bom desempenho de máquinas e equipamentos responde a uma demanda aquecida no mercado interno. A compra de maquinário, notou, é impulsionada por desejo de aumento de capacidade produtiva, o que, na prática, só se eleva quando há consumo em alta.
“Não podemos nos esquecer que consumo das famílias continua a crescer bem.”
Assim como parte do mercado, Considera aguardava uma economia menos aquecida no primeiro trimestre desse ano. Isso porque há a questão do ciclo de aperto monetário, iniciado pelo Banco Central (BC) no segundo semestre de 2024. O BC vem promovendo sucessivos aumentos na taxa básica de juros (Selic), que norteia juros de mercado, para coibir parte da demanda, sendo essa uma estratégia de combate ao avanço da inflação.
Porém, continuou o economista, o que se vê no Monitor do PIB é uma demanda ainda em alta, pelo menos até o primeiro trimestre de 2025.
“Achava que no início do ano se teria menos crescimento [econômico] durante o primeiro trimestre, que começaríamos mal. Mas parece que não”, disse. “E também não vejo razão para o segundo trimestre ser ruim”, adiantou.
O técnico lembrou recentes medidas do governo que podem ter levado a uma maior movimentação de recursos na economia. Uma delas foi a possibilidade de 13º antecipado do INSS. Outra, a opção de consignado pelo regime CLT.
“Se injetou muitos recursos na economia [esse ano]”, afirmou, ao acrescentar que, em sua análise, essas ações podem ter ajudado a compor um mercado interno mais aquecido, no começo de 2025 – com reflexo no Monitor do PIB.
Fonte: Valor Econômico

