A variação em setembro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou abaixo das 33 projeções de consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data, que estimavam queda de 0,22% em agosto. O intervalo das projeções era de -0,39% a -0,07%. No acumulado em 12 meses, o IPCA-15 ficou em 7,96% em setembro, ante 9,6% no número registrado até agosto, também em 12 meses. O resultado ficou abaixo ainda da mediana das estimativas do Valor Data, que era de 8,12%, com intervalo entre 7,94% e 8,29%.
A gasolina foi a principal influência para o IPCA-15 em setembro, com queda de 9,78% e impacto negativo de 0,52 ponto percentual no indicador. O IPCA-15 teve queda de 0,37% em setembro. Isso significa que, se não fosse o recuo na gasolina, o IPCA-15 teria ficado no campo positivo em setembro, com alta de 0,15%.
Este é o quarto mês seguido de queda no preço do combustível pelo IPCA-15, como resultado da queda de alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e das reduções de preços da Petrobras em combustíveis. Foram 12 anúncios de cortes de preços desde 19 de julho, praticamente semanais.
A redução do ICMS também influenciou nos preços do grupo comunicação, que recuaram 2,74% em setembro, com redução de planos de telefonia e de pacotes diversos que incluem acesso à internet e TV por assinatura.
Uma grande novidade do IPCA-15 em setembro veio nos preços de alimentos e bebidas, que recuaram 0,47%, em movimento puxado por alimentação no domicílio, com devolução parcial de preços em itens que haviam subido anteriormente, como óleo de soja, tomate e leite longa vida. No acumulado em 12 meses, no entanto, a inflação em alimentos e bebidas é ainda elevada, em 12,73%.
As principais surpresas baixistas do IPCA-15 de setembro, destaca Étore Sanchez, economista da Ativa Investimentos, vieram em itens que não estão nos núcleos de inflação medidos pelo Banco Central (BC), como comunicação, passagem aérea e gasolina. Os núcleos de inflação são medidas que tentam capturar a tendência de preços desconsiderando itens mais voláteis. Por isso, diz, o IPCA de 2022 foi revisado de 5,2% para 5,1%, em magnitude menor do que a surpresa da prévia da inflação de setembro poderia sugerir. Para 2023, foi mantida projeção de 5%.
Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos, destaca a melhora relativa do cenário de inflação, mas também chama a atenção para a evolução dos núcleos, que ainda apontam forte alta de preços. O núcleo de bens industriais, ressalta, continua rodando em torno de 1% ao mês, em variação “incômoda”, mantendo ainda certa demora de repasse de ajuste de preços de commodities e do atacado. O núcleo de serviços também segue alta, indica, perto de 0,6% em setembro, na variação mensal. Ainda que se espere uma desaceleração maior dos bens industriais para o decorrer do ano que vem, diz Sobral, ainda há dúvidas sobre os serviços.
Com base nesse cenário, diz o economista, a gestora deve rever a estimativa de IPCA de 2022 de 5,8% para 5,5%, sob influência de ajuste na inflação esperada em alimentos e a expectativa de novo corte de preços de combustíveis pela Petrobras. A projeção para inflação do ano que vem, em torno de 5%, fica inalterada, indica ele, assim como o esperado cenário de continuidade do aperto monetário pelo BC.
A surpresa baixista do IPCA-15 de setembro deve alterar projeções de curto prazo, mas não muda a dinâmica inflacionária esperada para os próximos meses ou o ano que vem, diz Roberto Padovani, economista-chefe do BV. O banco deve revisar a projeção do IPCA cheio de setembro de alta de 0,1% para deflação de 0,15%, mantendo, por enquanto, a estimativa de 6,3% para o indicador em 2022, com viés de baixa. Para 2023, a projeção é de IPCA de 5,3%. Os núcleos acompanhados pelo BC mostram inflação ainda elevada, diz, com aparente acomodação do setor de serviços, mas com indicador ainda em patamar alto em 12 meses. “O desafio de desinflação da economia brasileira continua elevado.”
Para Livio Ribeiro, sócio da BRCG, uma das grandes novidades de setembro foi a leitura favorável nos serviços, com desaceleração da inflação para 0,32%, embora a alta acumulada do setor siga elevada, em 8,6% em 12 meses.
Após a divulgação do IPCA-15 de setembro, a LCA Consultores reduziu de 6,2% para 5,8% a projeção de IPCA para este ano e de 5,5% para 5,2% para 2023. No relatório da consultoria, o economista Fabio Romão espera perda de fôlego em serviços, após o atendimento atual da demanda reprimida, ligada evidentemente às restrições ligadas à pandemia e financiada, em parte, pela poupança forçada gerada no período.
Fonte: Valor Econômico

