Adoção de novas tecnologia permite melhorar a gestão hospitalar e o fluxo no tratamento dos pacientes
Por Dauro Veras — Para o Valor, de Florianópolis
07/04/2022 05h04 Atualizado há 6 horas
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2022/5/M/iXTwAcQ4yfSdlrbbvZcQ/07rel-110-subusodados-f6-img01.jpg)
Cleiton Garcia, da Upflux, criou um sistema pata auditar processos — Foto: Divulgação
A jornada dos pacientes hospitalizados gera um enorme volume de dados que ainda são pouco aproveitados pelos gestores de saúde. Centros cirúrgicos, por exemplo, usam apenas 38% de sua capacidade, em média, segundo estudo da consultoria Planisa em 112 hospitais privados. Esse quadro começa a mudar com a adoção de novas tecnologias. Ganham os enfermos, que reduzem os riscos e podem voltar para casa mais cedo, e as instituições, que ampliam a eficiência. Entre as inovações está a “process mining”, ou mineração de processos, que controla fluxos hospitalares para revelar gargalos e gerar recomendações de melhoria.
“Somos pioneiros no uso combinado de gestão de processos com inteligência artificial (IA) para descobrir as pegadas digitais em cada sistema”, diz o diretor de produto e tecnologia da startup Upflux, Cleiton Garcia. “Assim conseguimos auditar processos de forma automática e fazer a verificação de conformidade para promover a melhoria contínua”. A empresa nasceu há cinco anos em Jaraguá do Sul (SC), a partir de sua tese de doutorado em ciência da computação na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) e da dissertação de mestrado de seu sócio, Alex Meincheim.
Um dos clientes da startup catarinense é o Complexo de Saúde São João de Deus, que atende 53 municípios no entorno de Divinópolis (MG). O projeto de desospitalização gerenciado pela plataforma digital levou à redução de 8,5% no tempo médio de permanência dos pacientes. Outra usuária da ferramenta, a rede de hospitais e laboratórios Dasa, obteve 16% de aumento na produtividade. A Unimed Paraná conseguiu aumentar em 200% o volume de contas auditadas mensalmente, sem ampliar a equipe.
Inspirado na indústria da aviação, o Hospital Albert Einstein implantou em 2018 a Central de Monitoramento Assistencial (CMOA), que acompanha o Escore de Alerta Precoce (MEWS na sigla em inglês) dos pacientes, disparando alertas que auxiliam na tomada de decisões rápidas. “No centro cirúrgico, monitoramos os procedimentos em tempo real, o que permite que a equipe de saúde se antecipe a qualquer evento adverso”, conta a diretora da unidade hospitalar Morumbi, Claudia Laselva. “No centro de parto, há mais de 500 dias não temos casos de anóxia neonatal, a falta de oxigenação durante o parto”.
Uma novidade em implantação no Einstein é o quarto automatizado, em que o paciente pode usar um dispositivo remoto para consultar seu prontuário eletrônico, acender e apagar lâmpadas, abrir e fechar janelas e chamar a enfermagem. Outra frente de inovação usa aprendizado de máquina e IA para monitorar os movimentos dos pacientes, focando na redução de quedas e de lesões por pressão. O projeto é desenvolvido pela Hoobox, startup de visão computacional vinculada à incubadora Eretz.bio.
A Roche Diagnóstica criou uma plataforma de software que auxilia a tomada de decisões no tratamento de câncer. O Navify possibilita ao médico cruzar informações do paciente com publicações científicas sobre oncologia. “Cada paciente e cada doença são únicos e apresentam diferenças singulares”, diz o diretor de medicina personalizada da companhia, Marcelo Oliveira. “As necessidades específicas de determinada doença ou paciente devem ser consideradas para definição da linha de cuidado mais adequada, ao mesmo tempo em que se coleta dados para a geração de insights que viabilizem uma gestão de saúde mais assertiva.”
A DGS Brasil, pertencente ao grupo Dedalus, de origem italiana, vai trazer para o país no segundo semestre o sistema O4C, que faz a gestão integrada da jornada do paciente no centro cirúrgico. “Nossa solução está pautada nas melhores práticas, entre elas os desafios globais para a segurança do paciente, da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, diz a gerente de contas estratégicas Claudia Bertoldo. “Ela garante que a cirurgia seja marcada e realizada no tempo certo, no órgão correto, sem intercorrência de infecções ou erros”, completa a enfermeira. A solução já é utilizada em mais de cem hospitais na Europa.
Outro sistema para gestão automatizada de fluxos de trabalho é o Flow MV, criado pela healthtech MV, de Recife. “Por meio do programa na nuvem, é possível organizar diversas funções de uma instituição”, explica a gerente de produto da unidade de gestão estratégica e qualidade, Kele Dias. “A solução permite que a empresa elabore os próprios caminhos e defina qual a melhor maneira de otimizar e acelerar os processos.”
Fonte: Valor Econômico